Enquanto o mundo espera as vacinações em massa, cientistas estudam as possíveis sequelas que estão atingindo os recuperados da Covid-19. Entre as maiores preocupações, a forma como o vírus pode afetar os neurônios e levar à debilitação da saúde mental é a mais discutida. Pois isso resulta na perda cognitiva
Doutor em neurociência e psicologia, o Dr. Fabiano de Abreu alerta sobre os perigos dos efeitos permanentes da doença no sistema nervoso em um estudo publicado no Journal of Development Research.
No levantamento, realizado em parceria com o médico e cardiologista Dr. Roberto Yano, ele mostra preocupação quanto aos traumas que o novo coronavírus gera no âmbito psicológico. Isto porque ele conclui que o vírus pode penetrar nas células nervosas. Pacientes, frequentemente, descrevem dores de cabeça, dores musculares, articulares e fadiga mental como sintomas pós-infecções.
"Sabemos que, neurologicamente, teremos danos seja ao nível celular ou da própria infecção. Isso pode causar traumas que afetam a nossa capacidade cognitiva e que resultam em transtornos, síndromes ou outras variáveis futuras. Preocupa-me também a saúde mental da sociedade em geral que está, ao nível geracional, a vivenciar algo deste tipo pela primeira vez", diz.
Outros efeitos
Além disso, somado aos efeitos do isolamento social — que diversos estudos já apontam como um potencializador de doenças da mente, como é o caso da ansiedade, síndrome do pânico e depressão —, a própria doença pode alterar a saúde mental. Apesar dos estudos, ainda preliminares, apontarem uma gravidade não tão elevada, é ressaltado pelo neurocientista que essas sequelas cognitivas não são tão fáceis de descobrir e completar um quadro clínico único.
"Mesmo quando os pacientes se recuperam fisicamente, visto que em casos de complicação o corpo fica bastante debilitado, há relatos de perda de memória, desorientação e confusão mental. Ainda não é de conhecimento a causa dessas experiências, embora também possam derivar da inflamação generalizada que pode se desenvolver com a doença. É preciso alertar, porém, que não é incomum que essa fadiga e confusão durem meses, mesmo após um quadro leve da doença", alerta.
Segundo o neurocientista, a atenção é necessária para avaliar se as sequelas cognitivas são ou não irreversíveis. "Pacientes com Covid-19, mesmo recuperados, por exemplo, ainda sofrem com a mudança no paladar e olfato, que pode ser irreversível. Isso está relacionado à lesão causada, principalmente, nos neurônios sensoriais, primários. Com os outros efeitos, a lógica pode ser a mesma", finaliza Dr. Fabiano de Abreu.