Coronavírus: 12 cidades de SP não têm nenhum leito de UTI disponível

Dados de fevereiro mostram que 12 cidades da região metropolitana de SP não têm nenhum leito de UTI adulta nas redes pública e privada. Quatro não têm leito nem de enfermaria. Juntos, municípios têm população de 825 mil habitantes, 364 casos confirmados e 33 mortes por Covid-19.

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Das 39 cidades que compõem a região metropolitana de São Paulo, 12 não têm nenhum leito de UTI adulta, tanto na rede pública quanto no sistema privado. Não possuem leitos do tipo os municípios de Biritiba-Mirim, Embu das Artes, Embu-Guaçu, Jandira, Juquitiba, Mairiporã, Pirapora do Bom Jesus, Rio Grande da Serra, Salesópolis, Santana de Parnaíba, São Lourenço da Serra e Vargem Grande Paulista. As informações são do G1.

Juntas, as 12 cidades somam 825 mil habitantes, segundo o IBGE, e 364 casos de coronavírus, de acordo com dados da Secretaria Estadual da Saúde. Essas cidades já tiveram 33 óbitos registrados por exames laboratoriais - em duas delas, todos os casos confirmados de Covid-19 são de óbitos.

As UTIs disponíveis nas cidades da Grande São Paulo que as possuem já estão chegando à lotação máxima. Nesta quarta-feira (29) a taxa de ocupação desse tipo de leito chegou a 85,1% na região metropolitana e o coordenador do Centro de Controle de Doenças do estado (CCD), Paulo Menezes, disse que hospitais de cidades do interior podem passar a atender pacientes da Grande SP.

Cidades da Grande SP sem UTI

Cidade População Casos confirmados Mortes Mortalidade Embu das Artes 240.230 105 12 11% Santana de Parnaíba 108.813 108 3 3% Jandira 108.344 42 3 7% Mairiporã 92.323 29 4 14% Embu Guacu 67.296 23 3 13% Vargem Grande Paulista 48.720 11 3 27% Rio Grande da Serra 48.302 22 0 0% Biritiba-Mirim 31.158 5 0 0% Juquitiba 30.642 3 3 100% Pirapora do Bom Jesus 17.646 9 0 0% Salesópolis 16.688 1 1 100% São Lourenço da Serra 15.177 6 1 17% TOTAL 825.339 364 33 9% Fonte: DataSUS, IBGE, Secretaria Estadual da Saúde de SP deslize para ver o conteúdo

Dentre as cidades da Grande SP sem UTI, quatro (Biritiba-Mirim, Rio Grande da Serra, São Lourenço da Serra, Pirapora do Bom Jesus) também não têm leitos de enfermaria.

Os dados são de fevereiro de 2020 e foram extraídos do sistema oficial de informações de saúde, o DataSUS. Todas as prefeituras citadas foram procuradas pelo G1.

Para o chefe da UTI do Instituto Emílio Ribas, referência em infectologia no país, nem toda cidade precisa ter leitos de terapia intensiva, mas a centralização do sistema de saúde pode aumentar a letalidade do coronavírus.

"O paciente de Covid-19 pode evoluir muito rapidamente, então a assistência pra ele tem que estar próxima, tem que haver uma boa logística de referenciamento e tem que haver capilaridade do sistema de saúde, ele não pode ser centralizado na capital", afirma Jaques Sztajnbok, do Emílio Ribas.

Em nota, a Secretaria Estadual da Saúde disse que já repassou mais de R$ 150 milhões para as cidades da Grande SP e que a Central de Regulação e Oferta de Serviços de Saúde (Cross) está disponível para transferir pacientes a unidades que possua recursos não disponíveis no serviço de origem do atendimento.

Já os municípios de Santana de Parnaíba e Embu das Artes disseram que devem inaugurar, nos próximos dias, hospitais de campanha com unidades de tratamento intensivo. As demais cidades que responderam à reportagem não deram previsão de inauguração de UTIs (veja a resposta de cada cidade e da secretaria estadual abaixo).

Outras três cidades da região metropolitana (Cajamar, Poá e Guararema) também não tinham leitos de UTI até fevereiro deste ano, mas disseram, em nota, que já foram criadas unidades do tipo diante da pandemia do novo coronavírus, e por isso não foram incluídas no levantamento.

Municípios em vulnerabilidade

O estado de São Paulo possui um quarto dos leitos públicos disponíveis no Brasil, o que equivale à uma proporção maior que a soma de todas as regiões do país, com exceção do Sudeste. A situação do estado, no entanto, não é confortável, já que a taxa de ocupação destes leitos está muito alta.

Muitas cidades da região metropolitana procuradas pelo G1 são de pequeno e médio porte, com população inferior a 100 mil habitantes, e justificam a ausência de leitos de UTI pela dificuldade de manutenção desse tipo de unidade. Mas um relatório da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da FGV sobre a vulnerabilidade do sistema de saúde diante da pandemia de Covid-19 argumenta que, devido à grande extensão de alguns municípios brasileiros, nem sempre é viável depender da rede hospitalar de cidades vizinhas.

“Pode-se argumentar que muitos desses municípios [sem leitos de UTI] são pequenos e dependem, em geral, da estrutura de saúde instalada em municípios próximos. Isso não significa que a ausência desse equipamento em uma série de cidades não seja uma vulnerabilidade considerável, tendo em vista a larga extensão de muitos municípios no Brasil”, destaca o relatório da FGV.

A Grande São Paulo tem 39 cidades e se espalha em uma área de 7.946,96 km², o que faz com que muitas regiões que não possuem UTIs fiquem longe do leito mais próximo.

A cidade de Juquitiba, que não tem UTI, tem como hospital de referência para casos graves uma unidade de saúde de Itapecerica da Serra. Esses pacientes graves têm que se deslocar por pelo menos 40 quilômetros até a UTI mais próxima. Em Juquitiba a taxa de mortalidade da Covid-19 é de 100%: há três casos confirmados e três mortes.

Jaques Sztajnbok, chefe da UTI do Emílio Ribas, afirma que é comum que o hospital, localizado na Zona Oeste da capital, receba pacientes de Covid-19 que moram a muitos quilômetros de onde estão internados.

"O problema está nessa remoção porque muitas vezes são pacientes críticos, tem caso em que a transferência tem que ser feita em UTI móvel, que é algo super raro mesmo na rede privada. A logística de referenciamento tem que ser muito bem pensada para lidar com Covid-19", diz Sztajnbok.

Um relatório da Fiocruz considera que a disponibilidade de menos de 10 leitos de UTI por 100 mil habitantes configura “uma condição crítica na oferta de leitos de UTI tanto no SUS quanto no setor de saúde suplementar” para enfrentar a pandemia.

Das 12 cidades da Grande SP que não têm leitos de UTI, três (Embu das Artes, Santana de Parnaíba e Jandira) têm população acima de 100 mil habitantes, segundo o Censo de 2015 do IBGE.

O documento da Fiocruz mostra que o estado de São Paulo é um dos únicos do país que têm, em média, mais de 10 leitos de UTI por 100 mil habitantes, em um cenário de ocupação de 50% destes leitos. Mas os leitos de UTI do estado já ultrapassaram esta taxa de ocupação: nesta quarta-feira, o índice chegou a 68,7% no estado de São Paulo e a 85,1% na Grande São Paulo.

Veja o posicionamento dos municípios da Grande SP que não têm leitos de UTI: 

Embu das Artes: “Estamos nos organizando e em 10 dias teremos 5 leitos de UTI somente para atendimento à Covid-19 em um hospital já existente. A cidade não tinha leitos de UTI anteriormente porque, como todas as cidades menores, é difícil a manutenção de leitos de UTI. Isso fica a cargo da secretaria estadual [da Saúde]. Já há uma rede de atendimento estadual e usamos nossas referências estaduais para UTI.”

Santana de Parnaíba: “De fato a cidade não tem [leitos de UTI], mas passará a ter, a partir de maio, com os hospitais de campanha. O fato de Santana de Parnaíba não ter é porque a cidade é referenciada pelo estado, por ser considerado de baixa complexidade. Todas urgências são encaminhadas, até este momento, para os hospitais da região, como Hospital Geral de Itapevi e Hospital Geral de Carapicuíba.”

Jandira: “A cidade não tem leitos de UTI pois há uma pactuação interfederativa de responsabilidades compartilhadas pelo SUS e, para Jandira, os leitos UTI são de responsabilidade estadual. A cidade criou o Centro de Combate ao Coronavírus (CCC) com 10 leitos de clínica médica com respiradores para suporte a vida até a transferência do paciente para o hospital de referência.”

Mairiporã: Não respondeu até a publicação desta reportagem.

Embu-Guaçu: Não respondeu até a publicação desta reportagem.

Vargem Grande Paulista: Não respondeu até a publicação desta reportagem.

Rio Grande da Serra: “O município tem como eixo principal e prioridade o desenvolvimento e o processo de intensificação de ações na Atenção Básica e no aprimoramento a qualidade do atendimento visando, estabilizar pacientes que venham a dar entrada em situação de emergência. Para estes casos a UPA 24 horas conta com leitos de Urgência e Emergência equipados com respiradores, para se necessário encaminhar para os Hospitais de referência.”

Biritiba-Mirim: “A cidade não tem hospital, apenas um Pronto Atendimento (P.A) Municipal para atender casos rápidos. Quando necessário, a Secretaria Municipal de Saúde solicita a transferência do paciente pelo sistema CROSS.”

Juquitiba: “Atualmente a Unidade Mista de Saúde (UMS) possui 09 leitos de Observação (24h) e o Ambulatório foi adaptado para um Centro de Atendimento ao COVID-19 e casos gripais que possui 02 leitos com Monitor e Respirador e 03 leitos de Observação. O Hospital de referência é o Hospital Geral de Itapecerica da Serra. Dependendo da disponibilidade de vagas, os pacientes são encaminhados para a referência, caso contrário, o paciente é inserido no sistema Cross e a vaga é determinada de acordo com leitos disponíveis em outros hospitais.”

Pirapora do Bom Jesus: “Os leitos de UTI são instalados em Hospitais Gerais que contam com médicos de várias especialidades e, principalmente, médicos intensivistas. Essa é uma realidade apenas de grandes municípios, com população superior a 100 mil habitantes. Pirapora do Bom Jesus tem população estimada em aproximadamente 19 mil habitantes e não dispõe de recursos para manter um Hospital Geral Regional.”

Salesópolis: Não respondeu até a publicação desta reportagem.

São Lourenço da Serra: Não respondeu até a publicação desta reportagem.

Veja a íntegra da nota da Secretaria Estadual da Saúde: 

O Governo do Estado repassou mais de R$ 300 milhões aos municípios para fortalecimento da rede assistencial com foco no atendimento a pacientes com COVID-19. Para as cidades da Grande São Paulo, o total destinado é superior a R$ 150 milhões, incluindo as cidades citadas. A seguir estão os municípios e o respectivo valor recebido (variável de acordo com o número de habitantes): Biritiba-Mirim (R$ 133 mil), Embu das Artes (R$ 2,3 milhões), Embu-Guaçu (R$ 324,9 milhões), Jandira (R$ 1,2 milhão), Juquitiba (R$ 125,8 mil), Mairiporã (R$ 697,4 mil), Pirapora do Bom Jesus (R$ 84,1 mil), Rio Grande da Serra (R$ 356,7 mil), Salesópolis (R$ 109 mil), Santana de Parnaíba (R$ 1,2 milhão), São Lourenço da Serra (R$ 83,8 mil) e Vargem Grande Paulista (R$ 206,9 mil).

A indicação é que os pacientes procurem serviços da atenção primária, como as UBSs, pois são a porta de entrada dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).

Para reforçar a assistência aos casos graves que precisarem de internação, o Governo do Estado de São Paulo ativou no último mês 1.881 leitos SUS de UTI Adulto para atendimentos a casos de COVID-19. Além disso, 100 novos leitos serão ativados no HCFMUSP com uma nova parceria com hospitais privados, anunciada nesta semana pelo Governador.

Importante destacar que a rede já possuía 57 mil leitos gerais e 3,5 mil de UTI adulto.

Além disso, há suporte da Cross (Central de Regulação e Oferta de Serviços de Saúde), caso qualquer paciente precise ser transferido a unidade que possua recursos específicos, não disponíveis no serviço de origem do atendimento.

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