Em decorrência da decisão de ontem do Copom, do Banco Central, de manter em 10,50% as taxas de juros Selic- interrompendo um ciclo de quedas que havia sido inaugurado em agosto do ano passado e foi até maio deste ano, ainda que nessa sessão anterior a redução tenha sido menor-, li e ouvi hoje que os conselheiros deste órgão oficial impuseram uma derrota ao Presidente da República.
Embora às vésperas da decisão do Copom Luiz Inácio Lula da Silva tenha feito manifestação dura contra a postura do atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, não procede que essa sua fala tenha determinado a manutenção da taxa, pois já havia bastante clareza de que a posição já estava previamente acordada e decidida.
O que o Presidente visou, foi denunciar que o presidente do BC não atuava de modo sério para tornar a instituição autônoma e independente.
Ostentando claro envolvimento político-partidário, com encontros e jantares com o governador de São Paulo, e oferecimento pessoal, prévio, para participar de um suposto governo, na hipótese de o dirigente paulista vir a ser presidente do país, tal postura, sob a luz da política e da ética, deixa-o na condição de parcial e, portanto, suspeito para tomar decisões que afetam todo o país.
E não é apenas o Presidente Lula que vê no mínimo uma inconveniência dessa movimentação política de Roberto Campos Neto. Na segunda-feira, 17, um dia antes de ter início a sessão do Copom que manteve a taxa nas alturas, o subprocurador-geral, do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União, Lucas Furtado, levantou a suspeição sobre o relacionamento do presidente do BC com o governador paulista. Lembrou que em 10 de junho o governante de SP ofereceu um jantar a Campos Neto e a imprensa toda noticiou que ele integrará a equipe de campanha de Tarcísio, caso seja candidato a Presidente.
O membro do Ministério Público sustenta em sua representação que a atitude do Presidente do BC “caracteriza flagrante conflito de interesse, visto que a manutenção das taxas de juros elevadas tem dificultado a implantação dos projetos de investimentos pretendidos pela atual gestão, sobretudo nas áreas de infraestrutura e políticas sociais.”
Na verdade, manter as taxas Selic nas alturas, que fazem dar ao Brasil a posição indesejável de deter os segundos maiores juros reais do mundo, é uma derrota para todos os brasileiros que não vivem de especulação financeira. Um fato que setores influentes da mídia tentam esconder, atuando para manter a impressão de que defendem a autonomia do BC, quando, na realidade, defendem os interesses de especuladores do mercado, que ganham facilmente quanto mais altos forem os juros.
Festejando os juros altos, os analistas de um grande banco brasileiro previam, no dia 6 de junho, numa publicação postada pelo MoneyTimes, que apenas uma dessas instituições bancárias do país teriam seus lucros ajustados agora para R$ 37,8 bilhões e para R$ 39,6 bilhões em 2025, no caso de a taxa ser mantida em 10.50%, um crescimento próximo a 4%.
E essa análise antecipada que os bancos fazem indica que as taxas, em dezembro deste ano, ficarão, na melhor hipótese para eles, e na pior para os brasileiros que trabalham e produzem, em 10,25%. Demonstra-se que o sistema financeiro e os mega-operadores do mercado de capitais manipulam o atual Banco Central, mantendo os juros em taxas indesejáveis para a maioria dos brasileiros que precisam de crédito para manter negócios ativos, empregos e salários em elevação e as famílias tendo o direito de ir às compras.