O mundo se depara, outra vez, com a repetição histórica de eventos sangrentos entre Israel e a Palestina, um conflito que se arrasta desde os anos 1940, que surgiu do movimento sionista que defendia a criação de um Estado Judeu em territórios dos palestinos e, desde então, só tem crescido em violência. Transformado em Estado em 1948, Israel sempre criou obstáculos para que a Palestina também fosse reconhecida como nação. Por esforços próprios, ou na busca de aliados poderosos de outros países, como os Estados Unidos, sempre estiveram prontos a exibir a capacidade bélica israelense nos seus enfrentamentos com o tradicional inimigo, numa guerra sem fim.
Ao longo do século XX, uma série de conflitos, a exemplo da Guerra dos Seis Dias, sacudiram o mundo e deixaram milhares e milhares de mortes de ambas as partes. Nesse tempo todo, os palestinos foram sendo empurrados para o canto da parede, empobrecidos, humilhados, desprovidos de condições para satisfazer as necessidades básicas de seu povo, acuados de maneira espantosa, a despeito de todos os esforços de paz que instituições mundiais e diversos governos nacionais têm realizado, sem sucesso.
Os conflitos entre Israel e a Palestina são historicamente marcados pela presença de ações terroristas de ambos os lados, como esses ataques de agora realizados desde o último final e semana pelos palestinos e que desde logo foram assumidos pelo grupo extremista armado, o islâmico Hamas. E aqui acontece uma trágica coincidência: foram os governantes de Israel, a partir do fracasso da Guerra dos Seis Dias, que estimularam as atividades de islamistas integrados à Irmandade Muçulmana no Egito, como um contraponto ao poder de Gamal Abdel Nasser no comando palestino. Autoridades israelenses, como bem demonstra a história, permitiram e até armaram ativamente a ascensão do Hamas, grupo hoje que se constitui no mais pesado adversário que Israel poderia ter.
Ao que está sendo demonstrado, Israel torna-se vítima do próprio monstro que criou para atacar os palestinos, hoje voltado contra a segurança de seu criador.
Só em Israel contam-se mais de 900 mortos. Em Gaza, ao menos 560 já morreram nesses três dias. E apesar dos apelos do mundo para que as duas partes estabeleçam uma trégua em busca da paz, não parece haver sinal de que isso vá parar agora, sobretudo diante da demonstração pública do primeiro-ministro de Israel, Bejamin Netanyahu, de que os revides contra o Hamas na Faixa de Gaza “são apenas o começo.” O direitista Netanyahu está em plena campanha pela renovação de poder em Israel.
Hoje, toda a faixa de Gaza, para onde os palestinos foram empurrados por Israel, é controlado por esse grupo extremista armado, que se beneficia de forte estrutura operacional, especialmente de uma rede de túneis, através dos quais conseguem chegar pertinho dos israelenses. Foi de lá, agora, que esse grupo extremista lançou entre 2,5 mil e 5 mil foguetes contra Israel. E os israelenses foram tomados de surpresa, diferentemente de outras ocasiões em que foram alertados por seus serviços de inteligência e puderam adotar medidas prévias. Isso demonstra que a tão propagada inteligência de Israel, que o transformaria em experts em segurança nacional e internacional, com fortes apelos ao mundo nessa linha, é hoje plenamente contestável.
PRÊMIO NOBEL PÕE EM EVIDÊNCIA A MULHER E O TRABALHO QUE ELAS REALIZAM
A Real Academia das Ciências da Suécia, instituição criada pelo rei Gustava III há 237 anos, e que contempla cientistas, personalidades do mundo da literatura e estudiosos e militantes dos esforços pela Paz, resolveu neste ano de 2023 dar atenção especial às mulheres. Entre os contemplados nesta temporada de reconhecimento, quatro delas já aparecem como as grandes evidências no campo da Economia, Medicina, Física e Prêmio Nobel da Paz, todos segmentos diretamente relacionados com a vida e o bem-estar das pessoas no mundo.
E o que vai mais além da escolha em si de mulheres entre os ganhadores, é o fato de que as questões por elas levantadas, que as fizeram merecedoras desses prêmios extraordinários são todas de enorme importância e marcante atualidade. É o que se extrai dos estudos que desenvolveram, cada uma no seu terreno de apuração, sobre as diversas problemáticas que as trouxeram ao pódio.
É o caso de Claudia Goldin, uma norte-americana nascida em Nova York há 77 anos, professora da Universidade de Haward, que realizou seus estudos sobre as mulheres no mercado de trabalho, com notáveis constatações sobre a grande disparidade salarial e de oportunidades entre mulheres e homens, sobretudo afetando mulheres de menos idade, na fase da vida em que precisam tomar decisões importantes para suas carreiras e têm, em razão de serem ainda muito jovens, que fazer escolhas sobre o trabalho e outros assuntos significativos para elas, como a maternidade, por exemplo. Desde 1969, quando o Nobel de Economia foi instituído, ela é a terceira mulher a receber o prêmio.
TOPO DA PREMIAÇÃO
Outra contemplada com o Nobel é a húngara Katalin Karicó, que passou a ser a 13ª mulher na história a ganhar o Prêmio Nobel de Medicina, desde que essa categoria foi instituída, em 1901. Os estudos que Katalin desenvolveu e que a levaram ao topo da premiação, foram sobre modificações na base de nucleosídeos que permitiram o desenvolvimento de vacina RNA mensageiro contra Covid-19, uma enorme contribuição para o combate a uma doença que gerou milhões e milhões de mortos e traumatizou o mundo. Ela divide o prêmio com Drew Wissman. A descoberta feita por eles durante os estudos, em 1997, foi fundamental para que se chegasse à fabricação da vacina contra covid.
A Academia Sueca, que na quinta-feira passada já havia anunciado o nome da militante iraniana Narges Hohammadi como Prêmio Nobel da Paz, fez figurar em sua lista uma quarta mulher. Trata-se de Anne L´Huillier, uma francesa com atuação vigorosa nos meios científicos e acadêmicos da Suécia. Ao lado de Pierre Agostini e Ferenc Krausz, ela foi contemplada com o Prêmio Nobel de Física, graças aos estudos que deram à humanidade novas ferramentas para explorar o mundo dos elétrons dentro dos átamos e moléculas.
No caso de Narges Mohammadi, escolhida Nobel da Paz, o reconhecimento foi à luta incessante que ela desempenha na busca de igualdade de direitos entre mulheres e homens, no seu esforço pela paz e na conduta firme e corajosa para denunciar as condições de violência contra prisioneiros políticos, a degradação do sistema presidiário do Irã e a violência e abuso sexual contra mulheres presas. Narges está presa em seu país, condenada a 31 anos de prisão em razão de sua militância, mas ainda assim, continua influenciando o mundo.