Uma operação conjunta das forças de segurança do Rio de Janeiro e do Ceará, realizada na madrugada deste sábado (31), revelou o poder de articulação de uma célula do Comando Vermelho oriunda do Nordeste e escondida na comunidade da Rocinha, na Zona Sul do Rio. Segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), o grupo teria ordenado ao menos mil assassinatos no Ceará nos últimos dois anos.
Coordenação remota e proteção local
De acordo com o procurador-geral de Justiça do Rio, Antonio José Campos Moreira, há indícios robustos de que esses homicídios tenham sido comandados à distância. “Há indícios de que mais de mil homicídios tenham sido ordenados do Rio para aquele estado ao longo dos últimos dois anos”, afirmou.
As investigações apontam que os criminosos cearenses alugavam um prédio considerado de luxo na Rocinha, em uma área de difícil acesso conhecida como Dioneia, onde recebiam proteção de traficantes cariocas mediante pagamento. O imóvel, segundo os investigadores, tinha uma bandeira do Ceará pendurada na fachada, um símbolo de domínio e ocupação.
Operação e confronto
A ação teve como objetivo o cumprimento de 29 mandados de prisão e 14 de busca e apreensão. Participaram unidades da Polícia Militar fluminense e membros do Ministério Público de ambos os estados. Durante o confronto, um policial militar foi baleado no pescoço, sendo socorrido e operado no Hospital Municipal Miguel Couto. Segundo a Secretaria de Saúde, seu estado de saúde é estável.
Apesar da operação, nenhuma das lideranças cearenses foi capturada. Informações apuradas indicam que os criminosos fugiram para a mata logo no início da ação.
Armas, munições e drogas apreendidas
Durante o cumprimento dos mandados, os agentes apreenderam quatro fuzis, duas pistolas, um revólver, um fuzil de airsoft, além de munições e drogas ainda em processo de contabilização. Um suspeito com mandado de prisão em aberto foi detido.
Ataques a provedores de internet no Ceará partiram da Rocinha
Ainda segundo o Ministério Público do Ceará (MPCE), a facção instalada na Rocinha também é responsável pelos ataques a provedores de internet no Ceará, iniciados em fevereiro deste ano. As empresas eram extorquidas para pagar "taxas" de operação. Quem se recusava a pagar era alvo de retaliações, como incêndio de veículos e destruição de equipamentos.
Autoridades se pronunciam
O governador do Rio, Cláudio Castro, esteve ao lado do procurador-geral do Rio, do secretário de Segurança, Victor Santos, e do comandante da PM, coronel Marcelo de Menezes Nogueira, durante entrevista coletiva neste sábado. Eles destacaram a complexidade da operação e reforçaram o compromisso com o enfrentamento ao crime organizado interestadual.
Moradores da Rocinha relataram nas redes sociais intensas trocas de tiros ao longo da madrugada, o que confirma a resistência dos criminosos à operação.