A popularização da maconha tem trazido novas preocupações à saúde pública. Um amplo estudo internacional publicado no periódico Heart revelou que o consumo da cannabis pode dobrar o risco de morte por doenças cardíacas. Para a pesquisa, foram analisados cerca de 200 milhões de pessoas, com idade entre 19 e 59 anos, de países como Austrália, Egito, Canadá, França, Suécia e Estados Unidos.
Segundo os dados, a maioria dos pacientes internados com infarto ou acidente vascular cerebral (AVC) eram jovens, muitos sem histórico prévio de problemas cardiovasculares ou fatores clássicos de risco, como tabagismo ou colesterol alto. Isso chama atenção para os efeitos da cannabis mesmo em indivíduos aparentemente saudáveis.
Riscos subestimados
Em comparação com quem não consome a substância, o estudo mostra que usuários de maconha apresentam 29% mais chances de sofrer infarto e 20% mais chances de ter um AVC. O professor de epidemiologia da Universidade da California, Lynn Silver, explicou o motivo disso acontecer. “Este é um dos maiores trabalhos já feitos sobre a relação entre cannabis e doenças cardiovasculares e desafia a ideia de que seu uso seria inofensivo para o coração”, destacou.
O especialista defende que o uso da maconha deve ser monitorado pelos profissionais de saúde de forma semelhante ao tabaco, com orientações claras sobre os riscos. “Estamos vendo um consumo crescente da cannabis em alguns grupos, superando até o do cigarro. Precisamos ser mais proativos na educação dos pacientes”, afirma.
Impacto da Fumaça e vapores nos vasos sanguíneos
Apesar da pesquisa não detalhar as formas de consumo, os autores indicam que, na maioria dos casos, a cannabis provavelmente foi fumada, prática que, assim como o cigarro comum, libera substâncias prejudiciais ao sistema circulatório. A fumaça e os produtos químicos inalados podem agredir as paredes dos vasos sanguíneos e aumentar o risco de coágulos, elevando a probabilidade de eventos cardiovasculares graves.
A fumaça ativa não é o único problema, a exposição passiva também representa risco, assim como ocorre com o cigarro. “Diversas formas de inalação da cannabis, incluindo vaporizadores e dabbing (vaporização de extratos concentrados), oferecem perigos semelhantes aos do tabaco”, alerta Silver.
Apesar dos avanços na regulamentação e legalização da maconha em vários países, o estudo reforça que ainda há muito a ser esclarecido sobre os efeitos de longo prazo dessa substância na saúde cardiovascular, principalmente em públicos jovens que tendem a subestimar seus impactos.