Após a ingestão de álcool, o que acontece no fígado?
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O consumo de álcool em excesso é capaz de causar danosa quase todos os órgãos do corpo, mas o fígado sofre os primeiros e maiores graus de lesão, sempre silenciosamente. Isso acontece porque esse é o órgão que realiza quase todo o metabolismo do etanol.
Mas afinal, o que será que ocorre no fígado quando ficamos 24 horas, 7 dias ou 30 dias sem ingerir álcool? Os médicos destacam que parar de beber sempre traz benefícios, até mesmo para quem chegou ao ponto de não retorno, estágio de cirrose avançada que necessita de transplante. Nesses casos, a interrupção da ingestão de álcool pode viabilizar o transplante.
Aqueles que sofrem com transtorno por uso de álcool, geralmente os que bebem diariamente, precisam de acompanhamento médico para parar de beber, porque podem ter a chamada síndrome de abstinência alcoólica, que em alguns casos pode levar a convulsões e até ser fatal.
É necessário entender como o fígado age:
Grande parte do álcool ingerido, cerca de 90%, é absorvido pelo estômago e intestinos. Depois, ele segue para o fígado pela veia porta - um grande vaso sanguíneo - onde é metabolizado por três vias enzimáticas: álcool-desidrogenase, citocromo P450 2E1 (CYP2E1) e catalase, gerando acetaldeído (tóxico) e espécies reativas de oxigênio. Os metabólitos do acetaldeído levam ao acúmulo de lipídeos, inflamação e toxicidade hepática, explicou o hepatologista do Hospital das Clínicas da UFMG, Guilherme Grossi.
Em seguida, o acetaldeído é convertido em acetato, que é menos nocivo e pode ser aproveitado como fonte de energia pelo corpo. Durante esse processo, o fígado altera seu equilíbrio químico e passa a acumular gordura dentro das células, fenômeno chamado esteatose hepática. Em pessoas que bebem com frequência ou em grandes quantidades, esse acúmulo pode surgir em poucos dias e, se o consumo continuar, evoluir para inflamação, fibrose e, eventualmente, cirrose, acrescentou o hepatologista e professor da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, Roberto José de Carvalho Filho.
Para Grossi, seguro é não beber e, do ponto de vista populacional, não há nível de consumo de álcool isento de risco — inclusive para o câncer e doenças hepáticas:
“O risco começa no primeiro gole, e cresce com a dose e o padrão de uso. Diversos fatores podem impactar o risco de lesão hepática induzida pelo álcool, como fatores genéticos, sexo (maior risco na mulher), comorbidades, etc. Mas o risco é maior em pacientes que já têm doença hepática estabelecida”, explicou.