Os meses de agosto e setembro são conhecidos pelo tempo mais seco no Brasil. Além disso, nesse período também acontecem muitas queimadas, especialmente no Norte e no Centro-Oeste do país. Esse problema ambiental agrava a poluição. Por isso, especialistas alertam que essa temporada deve ser de cuidados redobrados com a saúde.
Segundo a pneumologista Fernanda Miranda de Oliveira, do Einstein Hospital Israelita em Goiânia, durante a temporada de queimadas e seca, a qualidade do ar piora significativamente devido ao aumento de partículas inaláveis, como a fuligem, os gases tóxicos da fumaça e a poeira, que irritam e agridem as mucosas, nos deixando mais doentes.
É comum que haja um aumento nas internações por motivos respiratórios, impulsionadas pelo ar seco e poluído compromete os brônquios e facilita a entrada de vírus e bactérias no organismo. “A fumaça [das queimadas] e a secura criam um combo que compromete as vias aéreas, pioram doenças respiratórias crônicas, como a asma e a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), e causam desconforto até mesmo em pessoas saudáveis”, reforça. Crianças com menos de cinco anos, idosos, gestantes e pessoas com doenças crônicas respiratórias e cardíacas estão entre os grupos mais vulneráveis a esses efeitos.
Impactos
De acordo com o pneumologista Eduardo Algranti, coordenador da Comissão Científica de Doenças Respiratórias Ambientais e Ocupacionais da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Eduardo Algranti, a exposição frequente a essa poluição atmosférica pode se tornar um gatilho para o risco de câncer de pulmão. “Toda queimada é prejudicial, mas as de ambiente urbano são ainda piores para isso. Estamos falando da queima de plástico, produtos químicos, metais e lixo, o que adiciona poluentes tóxicos e potencialmente cancerígenos ao ar que respiramos."
Os impactos à saúde podem aparecer imediatamente ou após um tempo. “Quando respiramos esse ar seco e poluído das queimadas, temos problemas que são imediatos, como o aumento de casos de crises de bronquiolite e rinite, mas há também um impacto a longo prazo”, alertou o profissional.
Medidas simples em casa ajudam
Proteger o ambiente doméstico é essencial. Os especialistas indicam fechar janelas nas horas em que houver fumaça intensa. A casa deve ser ventilada apenas nos momentos com menor concentração de poluentes, como no início da manhã ou durante a noite. Outra medida válida para é manter o ambiente limpo e úmido tanto para evitar a secura como reduzir o acúmulo de fuligem.
Também deve ser reduzido o uso de ar-condicionado, pois esses aparelhos ressecam ainda mais o ar. “Os umidificadores são muito úteis, mas também não podemos exagerar. Eles não devem ficar ligados em ambientes fechados e precisam ser higienizados com frequência para evitar a proliferação de mofo ou ultrapassar a recomendação de umidade ideal, que é entre 40% e 60%”, orienta a pneumologista do Einstein. Ela sugere medidas como distribuir toalhas molhadas ou baldes com água nos cômodos para umidificar o ambiente de forma mais controlada.
Hidratação e exercícios
O indicado é beber bastante água, pois a ingestão de líquidos regularmente compensa os efeitos da secura e ajuda o corpo a evitar problemas cardiorrespiratórios causados pela desidratação e pela fumaça. Recomenda-se, no mínimo, 35 ml de água por quilo de peso corporal por dia para garantir uma boa hidratação.
Também é preciso evitar suar demais. Em dias de calor extremo, use roupas leves e respiráveis, que ajudam a regular a temperatura do corpo. Evite exposição ao sol entre 10h e 16h e a prática de atividade física ao ar livre, especialmente se houver queimadas próximas. “Os exercícios, além de nos fazerem suar excessivamente, abrem ainda mais as vias respiratórias, o que aumenta o contato com os poluentes, que não se dispersam adequadamente sem as chuvas”, observou Eduardo Algranti. Já nos dias de maior concentração de fumaça, o ideal é usar máscaras tipo PFF₂, especialmente quem está nos grupos de risco ou já tenha condições respiratórias prévias.
Apesar dessas medidas, é necessário observar sintomas de problemas respiratórios. Sinais como tosse persistente, olhos ardendo, chiado no peito e sensação de cansaço constante indicam que o sistema respiratório foi afetado pela qualidade do ar. Quem tem doenças crônicas deve procurar atendimento médico.
Pessoas com asma, DPOC, enfisema ou outras doenças que comprometam a capacidade pulmonar devem manter os remédios de controle em dia segundo suas recomendações médicas e seguir com rigor as mesmas orientações de cuidado para a população em geral. Também é recomendado criar um plano de ação para crises e não adiar o atendimento médico diante de qualquer piora.