No início, a intoxicação por metanol engana. O paciente sente náuseas, dor abdominal, tontura e dor de cabeça — sinais que poderiam ser atribuídos a uma simples bebedeira. Mas, internamente, a enzima álcool desidrogenase já está em ação. Ela transforma o metanol primeiro em formaldeído e depois em ácido fórmico, os verdadeiros vilões do processo.
“Nas primeiras horas, ainda há metanol intacto circulando, mas a conversão já começou”, explica o médico Luis Fernando Penna, do Hospital Sírio-Libanês. O problema é que, enquanto o mal-estar parece suportável, exames de sangue já mostram alterações importantes, como queda no bicarbonato e aumento do chamado osmolar gap — sinais de que o corpo caminha para uma acidose metabólica.
Segundo o infectologista Igor Mochiutti, do Hospital Metropolitano Lapa, é nessa fase que o perigo começa a se instalar. “O metanol em si não é tão tóxico, mas seus metabólitos são devastadores. A pessoa pode achar que melhorou, mas logo começam sintomas graves, como alterações visuais e confusão mental”, diz.