O luto é uma resposta natural à perda de alguém querido, mas para algumas pessoas o sentimento se torna tão intenso e persistente que impacta a saúde física e mental. Esse quadro pode desencadear depressão, ansiedade e problemas cardiovasculares, além de aumentar a procura por serviços de saúde.
Agora, um estudo realizado na Dinamarca revelou que pessoas que vivem um luto intenso apresentam maior risco de morrer em até 10 anos após a perda. Os resultados foram publicados nesta sexta-feira (25) na revista científica Frontiers in Public Health. Os pesquisadores acompanharam 1.735 homens e mulheres enlutados na Dinamarca, com idade média de 62 anos.
- 66% haviam perdido o parceiro
- 27% haviam perdido um dos pais
- 7% haviam perdido outro tipo de relação amorosa
Antes desse trabalho, cientistas já haviam identificado cinco trajetórias de luto com base na intensidade dos sintomas nos primeiros três anos após a perda.
- Trajetória baixa (38%) - níveis persistentemente baixos de sintomas
- Trajetória alta (6%) - níveis elevados e persistentes de luto
- Trajetória alta, mas decrescente (18%)
- Trajetória moderada, mas decrescente (29%)
- Trajetória de início tardio (9%) - pico de sintomas cerca de seis meses após a perda
Risco de morte 88% maior para quem sofre luto intenso
No estudo atual, o acompanhamento foi estendido para 10 anos, até 2022. Foram utilizados dados do Registro Nacional de Saúde da Dinamarca para avaliar com que frequência os participantes que receberam terapia da fala com clínico geral ou especialista e que obtiveram prescrição de medicamentos psicotrópicos.
Os resultados mostraram que pessoas na trajetória alta de luto tinham 88% mais risco de morrer em 10 anos do que aquelas na trajetória baixa. Além disso, enlutados com sintomas mais intensos tinham maior probabilidade de utilizar serviços de saúde mental mesmo após três anos da perda. Por exemplo:
- 186% mais chances de receber terapia da fala ou outros serviços de saúde mental
- 463% mais chances de receber prescrição de antidepressivos
- 160% mais chances de receber sedativos ou ansiolíticos
Efeitos a longo prazo
As diferenças no uso de serviços de saúde entre as trajetórias de luto deixaram de ser significativas após oito anos, mas o excesso de mortalidade no grupo de luto intenso continuou evidente ao longo dos 10 anos completos de acompanhamento.
“Já havíamos descoberto uma conexão entre altos níveis de sintomas de luto e maiores taxas de doenças cardiovasculares, problemas de saúde mental e até suicídio. Mas a associação com a mortalidade precisa ser investigada mais a fundo”, afirmou Mette Kjærgaard Nielsen, pesquisadora de pós-doutorado na Unidade de Pesquisa de Clínica Geral em Aarhus, Dinamarca, e autora correspondente do estudo.