O aspirante a lutador britânico, Sean Tobin, de 20 anos, que sonha em ser lutador de MMA, passou por maus bocados no último mês de julho. O uso contínuo de um cigarro eletrônico, conhecido por grande maioria como vape, por mais de 5 anos, quando ainda era adolescente, quase o fez perder todo o pulmão.
“Foi realmente assustador, pois eu senti que acabei comigo mesmo. Foram anos sem tratar meus pulmões como eles deveriam ser tratados. Meu cardio era muito bom, eu era muito saudável e não deveria ter começado a fumar”, disse ao "Kennedy News and Media". Os sintomas surgiram quando o lutador começou a trabalhar como aprendiz de eletricista, em julho.
“Quando eu entrei numa van, senti como se tivesse distendido um músculo das minhas costas. A tensão ali foi enorme”, conta. De início, os médicos acreditaram que tudo se tratava de uma pneumonia, no entanto o rapaz logo foi encaminhado à uma emergência porque os sintomas começaram a piorar ao longo do dia. “O radiologista leu meu relatório, e eles disseram que eu tive um colapso pulmonar”, relembra.
Para aliviar os sintomas, os médicos fizeram uma incisão entre suas costelas e inseriram um tubo com o objetivo de expelir o ar preso que comprimia seu pulmão e tórax. Passados dois dias sem melhoras, eles resolveram levá-lo à uma cirurgia, e uma câmera mostrou que a cavidade torácica de Sean Tobin estava cheia de pontos pretos, o início de uma necrose.
Para reparar o dano, os médicos cortaram uma pequena parte do topo do seu pulmão e então o grampearam novamente. Em seguida, colaram o órgão afetado na parede do peito para evitar que entrasse em colapso novamente. Uma semana depois, o jovem recebeu alta do hospital e passou por um período de recuperação de um mês antes de poder retornar ao seu regime normal.
O episódio não atrapalhou apenas o sonho do jovem candidato a lutador, mas também a vida dele no dia a dia. “Não consigo levantar nada que pese mais de 20kg. Sou lutador de MMA e fiquei com muito medo de não conseguir mais treinar. Sou muito apaixonado por isso e quero viver disso um dia”, afirma. Apesar de ouvir dos médicos de que terá uma recuperação total, Sean Tobi lamenta o ocorrido, e admite que já tinha visto casos como o dele, mas não acreditava que viveria essa terrível experiência.
Os riscos do cigarro eletrônico
O cigarro eletrônico, pod ou vape podem fazer mal e os perigos que eles conferem à saúde das pessoas em geral e de atletas em particular, que incluem aumento do risco de câncer e de doenças cardiovasculares e pulmonares, além de doping. A comercialização, importação e propaganda de dispositivos eletrônicos de fumar (RDC nº 46/2009) está proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Documentos das Sociedades Brasileiras de Cardiologia, Pneumologia e Oncologia possuem vários alertas sobre as manifestações clínicas do uso contínuo de vape.
9 riscos
- O cigarro eletrônico contém pelo menos 80 substâncias químicas, entre elas, a nicotina, que causa dependência, além propilenoglicol e glicerina vegetal, que produzem acetaldeído, substância associada ao reforço do poder de dependência da nicotina;
- O filamento aquecido dentro desses dispositivos é feito com metais, como níquel, latão, cobre e cromo, que são inalados conforme o líquido aquece e gera vapor. Portanto, fumantes de cigarro eletrônico têm níveis maiores de concentração de níquel no organismo, por exemplo, um carcinogênico grau 1, segundo a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC). Ou seja, o cigarro eletrônico pode causar câncer;
- O equipamento gera partículas ultrafinas que conseguem ultrapassar a barreira alveolar dos pulmões e ganhar a corrente sanguínea, aumentando os níveis de inflamação no corpo. Consequentemente, há lesão dos tecidos que cobrem os vasos (endotélio), deflagrando doenças cardiovasculares como síndrome coronariana aguda, acidente vascular cerebral e trombose.
- O uso do VAPE está ligado a outras síndromes como a EVALI (E-cigarette or vaping use-associated lung injury, em português "doença pulmonar associada ao uso de produtos de cigarro eletrônico ou vaping"), uma doença respiratória aguda que cursa com tosse, falta de ar e dor no peito, sendo comuns também dores na barriga, vômitos e diarreias, além de febre, calafrios e perda de peso, podendo facilmente ser confundida apenas com um quadro gripal.
- A Evali pode causar ainda fibrose pulmonar, pneumonia e chegar à insuficiência respiratória. Observamos também início de bronquite asmática nos usuários e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC);
- Alguns estudos ainda relatam piora de transtorno do humor, como ansiedade e depressão, pelo uso dos cigarros eletrônicos;
- No caso de atletas, o cigarro eletrônico pode causar sérios riscos, uma vez que atividades físicas em excesso são pró-inflamatórias e o vaping aumenta a inflamação;
- O vaping também contribui para a queda do desempenho esportivo, já que os pulmões ficam comprometidos;
- O pod ou vape contêm substâncias proibidas - e muitas vezes desconhecidas, já que não se pode ter certeza do que há nas formulações, pois não são regulamentadas pela Anvisa - e muitas podem configurar doping.