A influenciadora digital Flávia Leonel Santana, há dez anos, começou a sentir coceira e irritação após o banho. Ela chegou a achar que seria uma alergia a produtos como sabonete e shampoo, trocou de cosméticos, mas isso não resolveu. As manchas e pequenas bolhas na pele continuavam a aparecer. "Cheguei a tomar banho só com água e mesmo assim a alergia continuava", recorda.
Flávia, na época com 14 anos, conta que fez algumas alterações na sua alimentação, pois chegou a acreditar que poderia estar com alergia a algum alimento. Mas também não teve o efeito esperado. Foi durante um dia chuvoso que ela começou a entender a situação. "Eu estava com guarda-chuva e a minha perna, onde respingou água, ficou toda irritada e foi só naquela parte do corpo. Foi aí que comecei a pensar que eu poderia estar com alergia de água", recorda Flávia.
Para ter um diagnóstico, ela procurou um dermatologista. "Eu nem sabia que existia esse tipo de alergia. Quando cheguei na médica já falei sobre a minha desconfiança e após o teste de alergia ficou comprovado que eu tinha urticária aquagênica. Foi uma surpresa porque até então eu nunca tinha tido alergia à água e ninguém da minha família tem essa condição também", diz.
Antialérgicos não resolvem
A influenciadora digital disse que não tem problemas ao ingerir água, mas quando em contato com a pele, a alergia se manifesta. "Quando eu choro ou transpiro na academia as áreas do meu corpo que ficam molhadas ficam avermelhadas e cheias de bolinha, além de dar muita coceira e pinicar", conta a influenciadora. Segundo a jovem, as áreas de maior irritação são as costas, tórax e couro cabeludo.
Flávia testou alguns antialérgicos recomendados por médicos, mas sem sucesso. Hoje, ela conta que teve que se adaptar à condição. "Eu não frequento piscinas e raramente vou à praia porque o contato prolongado com a água piora muito os sintomas, chegando a fazer feridas na minha pele. Além disso, o meu banho também é rápido, em torno de 10 minutos, e sempre me seco muito bem. A alergia começa a melhorar e sumir da pele após uns 30 minutos", afirma.
Fora isso, ela conta que leva uma vida considerada normal, com a prática de atividades físicas, como o crossfit, além de ter uma vida social com os amigos. "Eu sempre tento ir secando o suor para não ficar coçando, mas não deixo a alergia me limitar", diz. Ela explica ainda que, assim como a doença apareceu de forma repentina, também pode desaparecer com o tempo, segundo os médicos a informaram.
"Como é uma alergia que desenvolvi ao longo da vida, não tenho desde criança, os médicos explicaram que ela também pode sumir em algum momento da minha vida. Mas isso só vou descobrir com o passar do tempo. Ninguém da minha família tem e foi algo bem novo para todos nós", acrescenta.
O que é a urticária aquagênica?
A urticária aquagênica é uma reação alérgica na pele quando o indivíduo tem algum contato com água. Isso independe se ela é fria ou quente, doce, salgada, filtrada ou não. Quando a alergia se manifesta, a pele costuma ficar vermelha, inchada, com coceira intensa, além da possibilidade de surgir bolinhas, parecidas à picada de insetos. Os sintomas normalmente somem em um período de 30 a 60 minutos, após a pele estar seca.
“A urticária aquagênica é uma doença rara, por isso os dados e estudos sobre ela são escassos. A prevalência é maior em mulheres, com o início da doença ocorrendo durante a puberdade ou pós-puberdade devido à imaturidade do sistema imunológico. No entanto, ainda não há uma explicação conclusiva do porquê ela atinge mais esse público", explica, em entrevista à BBC, Gabriela Andrade Coelho Dias, membro do Departamento Científico de Urticária da ASBAI (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia).