O impacto da pandemia da Covid-19 na saúde mental pode ter mais um marcador para apontar como as pessoas estão sendo afetadas pelo cenário de isolamento, risco de infecção, luto e insegurança. Um estudo da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) apontou que o número de casos de herpes zóster, doença que causa lesões na pele e dor, aumentou de pouco mais de 30 casos por milhão de habitantes, antes da pandemia, para quase 41 casos por milhão de habitantes em 2020. A alta na média de casos foi de 35,4%.
Os pesquisadores vão investigar ainda se, de alguma forma, as infecções pelo Sars-CoV-2 podem ter influenciado no aumento de ocorrências.
"Em abril do ano passado, começamos a nos perguntar o que a pandemia poderia ocasionar na saúde mental de uma pessoa que fica em quarentena, observando algumas condições que poderiam ter relação direta e indiretamente com a covid-19. Avaliamos a infecção pelo vírus varicela zoster, que causa herpes zóster, e começamos ver o que a ciência vinha divulgando. Tínhamos algumas pistas de que algumas doenças poderiam estar alteradas pela pandemia", diz Hercílio Martelli Júnior, professor titular do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Unimontes e coordenador do estudo, que recebeu apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).
Os pesquisadores compararam a média do período pré-pandemico, entre 2017 e 2019, com o ano de 2020, no recorte de abril a agosto. A análise utilizou dados do Sistema Único de Saúde (SUS) e apontou ainda o aumento em regiões do País.
"Antes da pandemia, tínhamos 30,2 casos a cada milhão de habitantes. Durante a pandemia, o número saltou para 40,9 casos por milhão de habitantes. Fomos comparar por regiões antes de comparar o Brasil como um todo e vimos que, no Nordeste, houve um aumento de 23,6% na ocorrência de herpes zoster nesse período. No Centro-Oeste, foi de 77,2%. A média brasileira de aumento foi de 35,4%, comparado ao período pré-pandêmico", afirma o pesquisador. Na região Sudeste, o aumento foi de 45,8%. Na Sul, de 26,6%, e na Norte, de 25,7%.
No momento, não é possível determinar as causas dessas diferenças regionais. "Torna-se difícil fazer tais especulações, pois não se tem estes detalhamentos de potenciais fatores mais específicos disponíveis para análise", explica Júnior.
O fator emocional, que interfere na imunidade, é um dos caminhos para tentar explicar a reativação desse vírus, o que estabeleceria uma relação entre a covid-19 e o aumento de casos de herpes zóster. Como a infecção por vírus pode desencadear algumas doenças, como ocorre com a Síndrome de Guillain-Barré, os pesquisadores precisam aprofundar mais os estudos para checar o impacto do novo coronavírus para o aparecimento das lesões.
"Por alguma razão que não se compreende bem e pode ser o fator emocional, ocorre uma reativação do vírus. Sabemos que fatores que comprometem a imunidade e a saúde mental, podem resultar em aumento de doenças autoimunes, como lúpus", afirma o professor. "Mas não é descartado se, com o Sars-CoV-2, temos aumento por aspectos de ansiedade e saúde mental exclusivamente ou se podemos ter alterações induzidas pelos agentes etiológicos da covid-19. Precisamos lançar mão de mais estudos e tentar responder."