Uma pesquisa veiculada na revista Alzheimer’s and Dementia, da Alzheimer’s Association, apontou uma ligação entre certos traços de personalidade e o risco de demência. No Brasil, cerca de 1,2 milhão de pessoas vivem com alguma forma de demência e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano, aponta o Ministério da Saúde.
O estudo partiu da análise de dados de oito estudos menores, totalizando 44.531 pessoas com idades entre 49 e 81 anos. Do grupo, 1.703 pessoas desenvolveram demência. Os participantes passaram por avaliações de personalidade e foram submetidos a exames cerebrais após morrerem. Os diagnósticos de demência foram comparados com os “cinco grandes” traços de personalidade:
- Abertura a experiências: amor pela novidade, criatividade e experiências diversas. Pense em um explorador de mente aberta.
- Conscienciosidade: foco na organização, planejamento e autocontrole.
- Extroversão: preferência por interação e estimulação social.
- Amabilidade: tendência a ser cooperativo, confiante e prestativo. Por exemplo, um jogador de equipe que valoriza a harmonia.
- Neuroticismo: sensível ao estresse e às emoções negativas, por exemplo, o preocupado que fica facilmente perturbado.
O estudo ainda comparou diagnósticos em pessoas que tinham um afeto positivo (uma personalidade que se inclina mais para traços positivos como alegria, entusiasmo e confiança) e um afeto negativo (alguém que tende a ter mais emoções como raiva, nervosismo e medo).
Conclusão
Dado os resultados, os pesquisadores sugeriram uma interação complexa entre personalidade, bem-estar e risco de demência. O neuroticismo e o afeto negativo aumentaram o risco, enquanto a consciência, a extroversão e o afeto positivo tiveram um efeito protetor. Embora, quando se tratava de indicadores neuropatológicos – os sinais físicos de demência no cérebro – os fatores psicológicos não mostraram uma associação consistente.
Por exemplo, indivíduos com níveis mais elevados de neuroticismo não carregavam necessariamente um fardo maior de neuropatologia no momento da morte. Isto sugere que, embora certos traços de personalidade e bem-estar subjetivo possam influenciar a probabilidade de um diagnóstico de demência, eles não estão diretamente relacionados com os danos cerebrais normalmente observados na demência.
“Esses resultados replicam e ampliam as evidências de que os traços de personalidade podem ajudar na identificação precoce e nas estratégias de planejamento do tratamento da demência, bem como na estratificação de risco para o diagnóstico de demência”, escreveram os autores.