O ciclo do sangue doado tem diversas etapas, incluindo as triagens clínica, sorológica e imunológica feitas pelos candidatos a doação, a coleta, o processamento das bolsas de sangue, os testes feitos pós-doação e a transfusão.
1. Triagens
A etapa da triagem já é responsável por diminuir bastante a taxa e a possibilidade de transmissão de doenças infecciosas do doador para o receptor.
A primeira triagem realizada é a medição da pressão arterial, temperatura, batimento cardíaco, peso e um teste de anemia que mede a hemoglobina no sangue e qual classificação sanguínea.
Em seguida, há uma entrevista breve em que perguntas são feitas ao doador sobre seu estilo de vida, com respostas registradas sob sigilo. Mas algumas pessoas podem se sentir constrangidas, sentir medo ou vergonha de dar alguma informação que possa comprometer essa doação, por isso ao final desse processo há a possibilidade de o doador fazer um voto de autoexclusão para que seu sangue seja descartado.
Cerca de 51 mil pessoas optaram pela autoexclusão em 2019, segundo dados da Anvisa.
2. Coleta de sangue total e por aférese
O doador fica em um poltrona onde o sangue é coletado de uma veia por meio de uma injeção, pela qual o sangue é transferido para uma bolsa de 450ml. Esse método é o mais comum e é chamado de coleta de sangue total.
A doação por aférese é feita com ajuda de uma máquina desenvolvida para colher apenas um componente do sangue desse doador. Esse aparelho aspira o sangue, separa o componente necessário e devolve para o doador o restante.
Existem pessoas que doam apenas as plaquetas, por exemplo, e podem doar mais vezes ao longo do ano do que o doador de sangue total, pois a velocidade de reposição das plaquetas é maior do que a dos glóbulos vermelhos.
Aliás, os glóbulos vermelhos são repostos em torno de 4 semanas após a doação, e o plasma em cerca de 24 horas. Mas o estoque de ferro precisa de 12 semanas para ser reposto em mulheres e 8 semanas nos homens, geralmente.
'Algumas reações tardias podem acontecer naquela pessoa que, por exemplo, doa com frequência e não se alimenta bem. Ela pode ter uma ferropenia (deficiência de ferro), por isso também as doações tem que ter um intervalo entre elas que permita que o doador se recupere, não só do ponto de vista da anemia, mas também do seu estoque de ferro", explica Sabino, da Fundação Pró-Sangue.
3. Pós-doação para o doador
Em geral, o doador fica cerca de 15 minutos no hemocentro fazendo uma pausa (e se alimentando) - se houver reação adversa, geralmente ocorre durante o processo ou logo em seguida à doação.
O sangue doado segue para o setor de fracionamento e armazenamento. Ali, o sangue total da bolsa é separado em seus componentes individuais (hemocomponentes): hemácias, plasma, plaquetas por meio de uma máquina de centrifugação. As bolsas de sangue são processadas por centrifugação refrigerada.
O princípio da hemoterapia moderna é baseada em transfundir apenas o componente que o paciente necessita, após avaliação clínica e laboratorial.
E o que antes era uma bolsa de sangue com 450ml se torna geralmente 3 bolsas - uma de hemácias (cerca de 280 ml), outra de plasma (170 ml) e finalmente uma de plaquetas (50ml).
Essas bolsas seguem para um estoque onde ficam em quarentena aguardando exames como os de doenças transmissíveis, tipagem sanguínea, pesquisa de sangues raros etc.
Os produtos sanguíneos são conservados com soluções anticoagulantes e preservadoras e soluções aditivas. O sangue que estiver aprovado em todos os testes é então liberado para os hospitais.
Já o sangue coletado que apresenta reatividade sorológica é descartado. Dados da Anvisa apontam que apenas 0,4% das amostras de sangue testadas apresentaram algum tipo de reatividade sorológica, a exemplo de hepatite B, sífilis, HIV e doença de Chagas.