O hábito de comer muitos alimentos ultraprocessados aumenta significativamente o risco de câncer colorretal nos homens e pode levar a doenças cardíacas e morte precoce em homens e mulheres, de acordo com dois novos estudos feitos em larga escala com pessoas nos Estados Unidos e na Itália. Estes alimentos, que normalmente contêm cinco ou mais ingredientes, há muito tempo são criticados por seus altos níveis de sal, gordura, açúcar e aditivos artificiais.
De acordo com o estudo, o problema estaria em dois aditivos químicos presentes em muitas listas de ingredientes alimentares que podem causar obesidade, diabetes tipo 2, câncer e doenças cardiovasculares.Segundo um panorama da BBC, esses químicos perigosos são em especial os emulsificantes e o aspartame.
1. Emulsificantes
Os emulsificantes estão presentes em muitos alimentos ultraprocessados e funcionam como a cola que ajudam a estabilizar misturas de água e óleo, impedindo que se separem. As substâncias também melhoram a aparência e a textura dos alimentos e ajudam a prolongar a vida útil dos alimentos menos processados. Um estudo francês, da Universidade Sorbonne Paris Nord, encontrou associações significativas entre a ingestão de emulsificantes e o aumento do risco de câncer em geral – principalmente câncer de mama – e de doenças cardiovasculares.
- Alimentos que contêm emulsificantes: Pastas com baixo teor de gordura, sorvete, margarina, molhos para salada, manteiga de amendoim e chocolate.
2. Aspartame
O aspartame é um adoçante artificial de baixa caloria, encontrado em muitas bebidas e alimentos dietéticos. Embora o adoçante continue popular, vários estudos o vincularam a problemas de saúde. Em maio deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) disse, embora as evidências não sejam conclusivas, que o uso prolongado de adoçantes como o aspartame pode aumentar o risco de “diabetes tipo 2, doenças cardíacas e mortalidade”.
- Alimentos e bebidas que contêm aspartame: cereais, sobremesas congeladas, gomas de mascar sem açúcar, refrigerantes diet e cafés instantâneos.
Conexão para o câncer
Uma pesquisa examinou as dietas de mais de 200 mil homens e mulheres por até 28 anos e encontrou uma ligação entre alimentos ultraprocessados e câncer colorretal –o terceiro tipo mais diagnosticado nos EUA– em homens, mas não em mulheres. Carnes processadas e ultraprocessadas, como presunto, bacon, salame, cachorro-quente, charque e carne enlatada, têm sido associadas a um risco maior de câncer de intestino em homens e mulheres, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, American Cancer Society e o Instituto Americano de Pesquisa do Câncer.
O novo estudo, no entanto, descobriu que todos os tipos de alimentos ultraprocessados desempenharam um papel em algum grau. “Descobrimos que os homens no quintil mais alto de consumo de alimentos ultraprocessados, comparados aos do quintil mais baixo, tinham um risco 29% maior de desenvolver câncer colorretal”, disse a coautora sênior Fang Fang Zhang, epidemiologista de câncer e presidente da divisão de epidemiologia nutricional e ciência de dados na Friedman School of Nutrition Science and Policy, da Tufts University, em Boston.
Conexão para a morte precoce
Uma análise publicada no “The BMJ” comparou o papel de alimentos pobres em nutrientes –como produtos ricos em açúcar e gorduras saturadas ou trans– versus alimentos ultraprocessados, no desenvolvimento de doenças crônicas e morte precoce. Os pesquisadores descobriram que ambos os tipos de alimentos aumentavam independentemente o risco de morte precoce, especialmente por doenças cardiovasculares.
No entanto, quando os pesquisadores compararam os dois tipos de alimentos para ver qual contribuiu mais, eles descobriram que os alimentos ultraprocessados eram “primordiais para definir o risco de mortalidade”, disse a primeira autora Marialaura Bonaccio, epidemiologista do departamento de epidemiologia e prevenção, no IRCCS Neurologico Mediterraneo Neuromed de Pozzilli, na Itália.
De fato, mais de 80% dos alimentos classificados pelas diretrizes seguidas no estudo como nutricionalmente insalubres também eram ultraprocessados, disse Bonaccio em nota. “Isso sugere que o aumento do risco de mortalidade não se deve diretamente [ou exclusivamente] à má qualidade nutricional de alguns produtos, mas ao fato de que esses alimentos são em sua maioria ultraprocessados”, acrescentou Bonaccio.