Com dor de estômago e falta de ar, ele descobriu que coração estava parando

No último final de semana de janeiro deste ano, ele foi a uma festa com amigos em São Paulo, onde vive.

Com dor de estômago e falta de ar, ele descobriu que coração estava parando | Reprodução
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Jhonatan de Martine, 29, sempre levou uma vida saudável. Fazia academia seis vezes na semana e tinha uma alimentação regrada com auxílio de nutricionista e nutrólogo. Ou seja, estava com a saúde "em dia". 

Por isso, quando as fortes dores de estômago apareceram, Jhonatan achou estranho e procurou um hospital. Tomou remédio por dois dias e o incômodo passou. No último final de semana de janeiro deste ano, ele foi a uma festa com amigos em São Paulo, onde vive.

Com dor de estômago e falta de ar, ele descobriu que coração estava parando

Na volta, dormiu na casa de um colega que mora perto dele e, quando acordou, resolveu ir embora. Mas um trajeto que demoraria 5 minutos durou 40 minutos. "A cada 5 ou 10 metros, eu perdia completamente o fôlego. Tinha que parar, descansar e andar mais alguns passos", lembra o publicitário. As dores de estômago também reapareceram neste momento.

Quando chegou, enfim, em casa, foi descansar. "Mas não conseguia respirar. Sabia que algo sério estava acontecendo. Pensei que era covid pelos sintomas respiratórios e resolvi voltar para o hospital". 

Quando os médicos realizaram um ecocardiograma, exame que analisa o coração, veio o susto: apenas 16% do órgão estava funcionando, era uma insuficiência cardíaca aguda. Com isso, ele foi internado imediatamente na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). 

Insuficiência cardíaca sem causas

Até hoje, não se sabe ao certo o que causou o problema no coração —inclusive, nem a biopsia no órgão conseguiu concluir algo. Neste contexto, o publicitário seguiu internado, tomando medicações intravenosas. Só que ele não apresentava melhora. Pelo contrário, Jhonatan foi piorando de forma progressiva. 

"Cheguei a sair durante 3 dias, mas piorei e voltei. Quando fizeram uma ressonância magnética, viram que eu tinha uma miocardite [inflamação no coração] antiga, que eu teria tido há 6 meses", diz. "Só que até hoje, não sabemos ao certo o que causou tudo isso. Temos apenas algumas teorias."

Quando os médicos perceberam que o caso seria mais complexo do que o esperado, Joe, como é chamado, precisou ser transferido para outro hospital, onde surgiram as primeiras conversas sobre o transplante de coração. Por isso, ele foi encaminhado para o InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP), em São Paulo, referência em casos como esse. 

"Os médicos disseram que não sabiam se teria outra solução além do transplante. Aí foi um choque e entendi a gravidade da situação".

De acordo com Bruno Biselli, cardiologista da Unidade Clínica de Insuficiência Cardíaca do InCor, que acompanhou o caso do jovem, nenhuma das hipóteses sobre as causas do problema foi confirmada —nem covid-19, que Joe teve duas vezes, nem uma possível doença com origem genética. 

"Ele não tinha nenhum antecedente, nenhum fator de risco para ter uma insuficiência cardíaca, nenhuma exposição ou causa clara que indicasse o problema", explica o médico. "Também não sabemos se foi a miocardite. Por isso, assim como em boa parte dos casos, ele ficou com o quadro idiopático [quando não há causa definida]".

'De repente, estava nas mãos de uma doença que não sei a causa'

Depois da chegada ao InCor, as coisas foram acontecendo rapidamente. Ele foi internado no dia 31 de janeiro deste ano, descobriu que precisaria de transplante no dia 25 de fevereiro e, uma semana depois, já estava na fila. 

A equipe médica seguiu com as medicações que apenas amenizavam os sintomas do publicitário. Mesmo assim, ele ainda passava mal em alguns momentos, principalmente pela fraqueza no corpo. Com isso, os especialistas optaram pelo balão intra-aórtico, que dá mais suporte ao "trabalho" do coração, principalmente na circulação sanguínea —o procedimento foi ponto principal que o colocou como prioridade na fila de transplante.

"Neste tempo, fiquei muito bem, não tive sintomas por poucos dias, mas não podia sair da cama, nem sentar. O cateter ficava inserido na virilha, então não conseguia dobrar a perna, que ficava amarrada. Dormir e ir ao banheiro eram um inferno. Tudo era muito complexo de fazer", diz.

Jhonatan conta que esse período foi bem difícil, que chegou perto de "bater as botas". Em vários momentos, quando a pressão dele caía, a equipe toda corria para o quarto. Apesar disso, nunca foi intubado ou precisou ser ressuscitado. 

Exatamente por esse quadro grave, progressivo e de piora acentuada, ele entrou como prioridade na lista de transplante de coração. "Passei na frente de todo mundo. Estava tomando a dose máxima de medicamentos", diz 

Quando o transplante cardíaco é necessário? 

Importante explicar que o caso de Jhonatan não é o mais comum, de acordo com o cardiologista. "Dentro dos transplantes de coração, geralmente são pacientes que já tinham diagnóstico prévio de insuficiência cardíaca tratada há anos." 

Na maioria das situações, a pessoa apresenta esse quadro agudo no coração, toma medicação e melhora. Depois, no futuro, se ela tem uma piora, é possível que precise de um transplante, mas depois de anos —algo entre 5 e 7 anos, segundo o médico.

Ainda de acordo com o cardiologista do InCor, o transplante cardíaco é a última linha de tratamento para quem tem insuficiência cardíaca. "É quando o paciente está sintomático persistentemente ou com uma falência cardíaca que é necessário o uso de medicação ou de outros mecanismos. É quando não há mais nenhuma alternativa", diz Biselli.

E esse era o caso de Jhonatan, que não apresentava melhora de forma alguma. 

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