A hanseníase, também conhecida como lepra, é uma doença infectocontagiosa de evolução crônica, causada pela bactéria Mycobacterium leprae ou Bacilo de Hansen. Embora seja uma condição curável, infelizmente, ela ainda é classificada como endêmica no Brasil. Isso se deve à alta incidência de casos em comparação com outras nações, posicionando o país como o segundo colocado em novos diagnósticos e líder em recidivas, conforme aponta o Ministério da Saúde.
Entre o período de janeiro e novembro de 2023, foram identificados mais de 19 mil novos casos de hanseníase entre brasileiros, o que representa um aumento de 5% em relação ao total de notificações registrado no mesmo intervalo de tempo em 2022. "A hanseníase afeta, principalmente, os nervos periféricos superficiais e a pele. As manifestações clínicas incluem manchas mais claras ou avermelhadas, com alteração de sensibilidade, áreas apresentando sensibilidade alterada, além de ferimentos ou queimaduras indolores nas mãos ou nos pés", afirma Flavia Rosalba Rodrigues, dermatologista do Hospital Dia Campo Limpo, gerenciado pelo CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo.
Dor, dormência, formigamento, perda de força nas mãos e pés, hipersensibilidade nos nervos, edema, nódulos na face ou nos lóbulos auriculares também podem ser sinais do quadro. Não só isso, a enfermidade pode também afetar mucosas do trato respiratório superior, olhos, linfonodos e testículos.
“Ela pode atingir qualquer pessoa, independentemente de idade, gênero ou classe social. Mas, há uma incidência maior da doença em homens quando comparado a mulheres. As crianças, especialmente as menores de 15 anos, são menos acometidas, porém, notamos um adoecimento maior das crianças em região com maior endemicidade da doença”, explica a médica. Geralmente, a transmissão da hanseníase ocorre de uma pessoa infectada para outra por meio de gotículas respiratórias durante contatos próximos e prolongados.
Prevenção
Para prevenir a sua propagação, é crucial identificar e tratar os casos precocemente. “A prevenção envolve principalmente a identificação e tratamento precoces de casos, reduzindo assim a transmissão da bactéria. Embora a vacinação BCG ofereça alguma proteção, ela não constitui uma medida completa de prevenção. Além disso, a promoção de boas práticas de higiene e o conhecimento sobre a doença desempenham um papel importante para diminuição dos índices”, reforça a dermatologista.
Como e onde buscar ajuda?
O tratamento para pacientes diagnosticados com hanseníase é conduzido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e pode estender-se por um período que varia de seis meses a anos, dependendo da forma clínica da doença. Normalmente, o primeiro atendimento ocorre em Unidades Básicas de Saúde (UBS), e, a partir disso, o paciente é encaminhado para algum hospital público.
Durante a consulta no hospital, o médico dermatologista realiza uma avaliação do paciente, podendo incluir testes de reação à histamina, sensibilidade tátil, dolorosa e térmica, além de solicitar exames para apoio no diagnóstico, como biópsia da mancha, baciloscopia e eletroneuromiografia. A biópsia é realizada durante o atendimento dermatológico pelo médico, enquanto a baciloscopia é conduzida por um enfermeiro ou técnico de enfermagem.
“Para o paciente diagnosticado, o início do tratamento medicamentoso ocorre com a utilização da Poliquimioterapia Única (PQT-U), que pode ter duração de 6 a 12 meses. Durante todo o processo, o paciente é acompanhado pela farmacêutica da própria unidade de saúde pública. Além disso, se houver a necessidade de avaliação oftalmológica ou neurológica, o paciente também tem direito aos atendimentos de forma gratuita”, explica Mariana Berlini, enfermeira do Hospital Dia Campo Limpo.