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Câncer de mama: novos remédios têm menos efeitos colaterais e resultados mais promissores

Tratamento mais moderno para câncer de mama HER2 mostra melhores resultados

A pesquisadora Nadia Harbeck apresenta resultados de fase 3 do estudo DESTINY-Breast11 | Foto: ESMO
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Um novo tipo de remédio contra o câncer pode mudar a forma como pacientes com câncer de mama do tipo HER2 positivo em estágio inicial são tratados. Esse tratamento usa uma tecnologia chamada ADCs (anticorpos conjugados à droga), que parece ser mais eficaz e menos agressiva ao corpo do que a quimioterapia tradicional. Em alguns casos, a resposta ao tratamento chegou bem perto da cura. Com informações do UOL.

Essas novas descobertas foram apresentadas no congresso ESMO 2025, da Sociedade Europeia de Oncologia Médica, em Berlim, em dois estudos importantes de fase 3. Por serem considerados de grande impacto, os estudos foram incluídos na principal sessão do evento, atraindo o público com bastante antecedência.

Resultados do primeiro estudo

O primeiro trabalho, chamado DESTINY-Breast11, começou em 2021 e envolveu 927 pacientes com câncer de mama HER2 positivo, um tipo mais agressivo da doença. Normalmente, esse tipo de câncer é tratado com quimioterapia antes da cirurgia, para reduzir o tamanho do tumor.

No estudo, os pacientes foram divididos em três grupos:

  • Um recebeu o novo medicamento T-DXd (trastuzumabe deruxtecano) junto com quimioterápicos;

  • Outro seguiu o tratamento padrão com quimioterapia tradicional;

  • O terceiro recebeu apenas T-DXd, mas esse grupo foi encerrado em março de 2024, pois especialistas consideraram que esse método isolado provavelmente não teria melhores resultados que o tratamento tradicional.

Quase 70% dos pacientes que usaram T-DXd junto com outros medicamentos tiveram uma resposta completa ao tratamento — ou seja, após a cirurgia, não havia sinais do tumor. No grupo que recebeu o tratamento padrão, esse número foi de 56%. Segundo o oncologista Fernando Maluf, mesmo sem participar da pesquisa, esse tipo de resposta é considerado muito próximo da cura.

Além disso, o grupo que recebeu o novo medicamento teve menos efeitos colaterais, como náuseas, queda de cabelo e problemas cardíacos. Enquanto 56% dos pacientes do grupo tradicional relataram efeitos severos, esse número caiu para 40% no grupo que usou T-DXd.

Nadia Harbeck apresenta resultados de fase 3 do estudo DESTINY-Breast11

Mesmo assim, o novo tratamento não está livre de riscos. Problemas pulmonares foram relatados em 4% dos pacientes com T-DXd e em 5% dos que usaram o tratamento comum. Em ambos os grupos, houve uma morte causada por essa complicação. Problemas cardíacos também foram menos frequentes com o novo remédio (1%) do que com a quimioterapia tradicional (6%).

A oncologista Sara Hurvitz, da Universidade de Washington, destacou algumas limitações do estudo, como a baixa presença de mulheres negras e o fato de parte dos pacientes do grupo padrão não ter recebido nenhum tratamento anterior, o que pode ter influenciado nos resultados. Ainda assim, ela considerou os dados clinicamente relevantes.

Segundo estudo mostra nova vantagem

Já o segundo estudo, chamado DESTINY-Breast05, avaliou 1.600 pacientes com câncer de mama HER2 positivo em estágio inicial, mas com alto risco de recaída mesmo após tratamento inicial e cirurgia. Esses pacientes foram divididos em dois grupos: um recebeu T-DXd e o outro tomou T-DM1, um outro tipo de ADC já em uso.

O T-DXd mostrou melhor desempenho, reduzindo em 53% o risco de a doença voltar ou de morte, quando comparado ao outro medicamento. Além disso, o remédio também demonstrou capacidade de proteger o cérebro contra metástases, uma das complicações mais graves do câncer.

A médica Sara Tolaney, especialista em câncer de mama, destacou que essa redução nas chances de a doença voltar pode representar um grande passo na direção da cura para muitos pacientes.

No entanto, também foram observados efeitos adversos. A doença pulmonar intersticial, por exemplo, apareceu em quase 10% dos pacientes que tomaram T-DXd, enquanto no grupo com T-DM1 o número foi de 1,6%. A maioria dos casos, porém, foi leve e reversível, segundo os pesquisadores.

O que são ADCs?

ADCs são uma combinação de um anticorpo (uma proteína que reconhece células específicas) com um medicamento contra o câncer. Eles são ligados por uma molécula que funciona como uma "cola química". A ideia é que o anticorpo funcione como um guia, levando o remédio diretamente à célula doente, evitando que ele afete células saudáveis.

Essa tecnologia é muitas vezes comparada ao “Cavalo de Troia”: o anticorpo leva o remédio até o tumor, e ele só é ativado quando entra na célula cancerosa. Isso torna o tratamento mais específico e, teoricamente, com menos efeitos colaterais.

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