O autismo é geralmente identificado na infância, mas isso não acontece com todos. Muitas pessoas só descobrem que estão dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA) quando já são jovens ou até mesmo adultas. Até esse momento, convivem com dúvidas e uma sensação constante de não se encaixar, sem entender exatamente o motivo.
Diversos fatores atrasam o diagnóstico: falta de informação, dificuldade em acessar profissionais especializados, receio da família, questões emocionais e até condições financeiras. O estigma também pesa: muita gente evita buscar avaliação por medo do que pode encontrar.
Nos casos mais leves, conhecidos como grau 1, essa demora costuma ser ainda maior. Por serem independentes e manterem uma vida funcional, essas pessoas acabam criando formas de esconder dificuldades. Só depois de comentários sobre isolamento, pouca facilidade em manter vínculos ou um jeito mais direto de se comunicar é que procuram ajuda.
Sinais de autismo que podem aparecer em adultos
Alguns comportamentos levantam suspeita de que a pessoa esteja no espectro — mas somente um profissional pode dar o diagnóstico. Entre os sinais possíveis estão:
Dificuldade para reconhecer emoções próprias e alheias;
Obstáculos na socialização e interações sociais mais duras ou pouco espontâneas;
Dificuldade para entender indiretas, sugestões e nuances da comunicação;
Presença de outras condições, como ansiedade, depressão, TDAH, TOC, irritabilidade, problemas de sono, questões gastrointestinais, epilepsia ou desafios motores;
Grande foco em interesses específicos ou no trabalho;
Resistência a mudanças e forte necessidade de manter rotinas;
Sensibilidade aumentada a luz, barulho ou outros estímulos.
Como é feita a avaliação em adultos
A investigação segue os mesmos princípios da avaliação infantil, mas costuma ser mais detalhada. O profissional analisa toda a trajetória do paciente: histórico familiar, desenvolvimento, comportamento social e emocional.
O processo pode incluir entrevistas, consultas com psiquiatras, psicólogos e neurologistas, além de testes neuropsicológicos e escalas de avaliação. Em algumas situações, exames como testes auditivos, genéticos ou eletroencefalograma são solicitados para descartar outras condições.
Um dos maiores desafios é recuperar informações da infância. Muitas pessoas têm poucas lembranças ou não contam com familiares que possam ajudar. Além disso, quem passou anos tentando se ajustar socialmente pode ter aprendido a disfarçar sinais característicos, o que torna a análise mais complexa.
O que muda após o diagnóstico
Quando o diagnóstico é confirmado, a pessoa passa a ter acesso a terapias e estratégias que auxiliam nas habilidades sociais, emocionais e práticas do dia a dia. Esse suporte direcionado evita que dificuldades se intensifiquem com o tempo.
Já a ausência de diagnóstico pode trazer impactos importantes. Muitos adultos passam por dificuldades na escola, no trabalho e nos relacionamentos, o que aumenta o risco de ansiedade e depressão. Em vários casos, chegam a fazer tratamentos que não trazem resultado porque cuidam apenas dos sintomas, sem considerar a causa principal.
Receber o diagnóstico proporciona mais clareza, acolhimento e autoconhecimento. Para muitos, é o momento em que sua trajetória passa a fazer sentido.