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Anvisa endurece regras para a venda de canetas emagrecedoras; veja o que muda

Anvisa exige maior controle na venda de medicamentos como Ozempic e Wegovy, usados para perda rápida de peso e que podem trazer riscos à saúde se utilizados sem acompanhamento médico

Controle sobre venda de Ozempic e similares no Brasil | Foto: Adobe Stock
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A Anvisa decidiu nesta quarta-feira (16) tornar obrigatória a retenção da receita médica para a compra de medicamentos como Ozempic, Wegovy, Saxenda e similares, conhecidos popularmente como “canetas emagrecedoras”. A medida busca coibir o uso indiscriminado desses medicamentos por pessoas sem indicação médica.

Apesar de já serem classificados com tarja vermelha, o que exige prescrição médica, na prática, muitos desses remédios vinham sendo vendidos sem que as farmácias retivessem a receita, facilitando o acesso por quem busca emagrecer rapidamente, sem acompanhamento ou necessidade real de tratamento.

A decisão da agência reguladora ocorreu após um alerta do Conselho Federal de Medicina (CFM) sobre o crescimento descontrolado no consumo desse tipo de substância.

Como funcionam

Medicamentos como Ozempic e Wegovy foram originalmente desenvolvidos para tratar diabetes tipo 2. O princípio ativo mais comum, a semaglutida, atua imitando o hormônio GLP-1, que regula a saciedade e o controle glicêmico no organismo.

Esses medicamentos agem em três frentes:

  • No hipotálamo, promovem sensação de saciedade;
  • No fígado, reduzem a produção de glicose;
  • No pâncreas, estimulam a liberação de insulina.

Com isso, o paciente pode reduzir entre 30% e 40% da ingestão calórica, dependendo da dosagem, o que resulta em perda de até 17% da massa corporal em um ano. Outras substâncias com efeito semelhante, como a liraglutida, estão presentes em marcas como Saxenda e Victoza.

Uso com responsabilidade

Apesar do potencial terapêutico, o uso sem indicação médica pode ser perigoso. A endocrinologista Cynthia Valério, da ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica), alerta que o uso recreativo, sem controle nutricional e com redução drástica de proteínas, pode causar perda acentuada de massa muscular e até desnutrição.

Efeitos colaterais também são comuns, especialmente no sistema gastrointestinal, com relatos de:

  • Náuseas, vômitos e diarreia;
  • Refluxo, gastrite e constipação;
  • Dor abdominal, flatulência e indigestão;
  • Fadiga, dor de cabeça e sensação de fraqueza.

Casos mais graves, como pancreatite, são raros, mas motivo de contraindicação para pessoas com histórico da doença ou com câncer de tireoide na família. Além disso, os medicamentos não são indicados para grávidas, lactantes ou pessoas alérgicas a seus componentes.

A nutricionista Sophie Deram, em entrevista a um podcast, reforçou que o uso inadequado pode levar ao reganho de peso e até desencadear compulsões alimentares.

O que diz a fabricante

Em nota enviada à imprensa, a Novo Nordisk, empresa responsável pela produção do Ozempic e outros medicamentos análogos de GLP-1, afirmou que recebe com naturalidade a decisão da Anvisa e reiterou a segurança e eficácia dos medicamentos registrados no Brasil. A farmacêutica também destacou o compromisso com o combate ao uso inadequado e à automedicação, e defendeu a importância do acompanhamento médico contínuo.

Veja a nota completa da empresa:

"A Novo Nordisk recebe com naturalidade a decisão da ANVISA sobre a retenção de receita de medicamentos análogos de GLP-1, como Wegovy®, Rybelsus®, Ozempic®, Saxenda®, Victoza® e Xultophy®. A decisão da agência não tem relação com a segurança e eficácia dos medicamentos à base de GLP-1 registrados no Brasil.

Robustas pesquisas clínicas, envolvendo milhares de pacientes em todo o mundo, já comprovaram o perfil de segurança e eficácia das moléculas liraglutida e semaglutida. A Novo Nordisk reitera a confiança na qualidade de seus tratamentos, presentes no Brasil há 14 anos e aprovados pela agência sanitária brasileira.

A empresa compartilha das mesmas preocupações da ANVISA quanto ao uso irregular de medicamentos e fora da indicação em bula, e reforça que a segurança do paciente é seu principal compromisso. A Novo Nordisk se mantém aberta ao diálogo e à colaboração com as autoridades de saúde, combatendo sempre, por meio de campanhas de conscientização e ações de educação, a automedicação e o uso off-label, bem como denunciando casos de falsificação, comercialização e consumo de medicamentos análogos de GLP-1 irregulares. Tais produtos colocam os pacientes em risco, visto que não possuem estudos, aprovações e garantias de origem, eficácia, segurança ou qualidade.

A decisão da ANVISA prevê a obrigatoriedade de retenção de receita para a venda de medicamentos que contenham princípios ativos análogos de GLP-1, usados no tratamento de diabetes e obesidade. A regra passará a valer 60 dias após a publicação da decisão em Diário Oficial, o que deve ocorrer nos próximos dias.

Obesidade e diabetes são doenças crônicas que não têm cura e exigem acompanhamento médico ininterrupto. A Novo Nordisk acredita na importância de seguir ampliando o conhecimento e combatendo o estigma existente para que cada vez mais pacientes tenham acesso a tratamentos para doenças crônicas e que possam viver uma vida com mais qualidade."

Com a nova exigência da Anvisa, o objetivo é reforçar a importância do acompanhamento profissional e garantir que o tratamento com canetas emagrecedoras seja feito de forma segura e responsável.

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