Alérgicos e a vacina contra a Covid-19: dúvidas e cuidados

Pouquíssimas reações anafiláticas foram relatadas entre milhões de vacinados contra o coronavírus. Trazemos os pontos que pessoas alérgicas devem saber

Vacina contra a Covid-19 | Reprodução
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Dados do Centro de Controle de Doenças (CDC) coletados em janeiro pelos Estados Unidos informam que do total de 1,8 milhão de pessoas que receberam a vacina da Pfizer contra a Covid-19, 21 desenvolveram uma reação alérgica grave, também conhecida como anafilaxia. A maioria tinha histórico do problema, e nenhuma morreu.

A incidência do evento adverso é de um em cada 100 mil indivíduos. Assim, ele é considerado raro, atingindo menos de 0,001% dos imunizados. Para ter ideia, se os mesmos 1,8 milhão de norte-americanos contraíssem Covid-19, cerca de 30 mil morreriam, considerando a taxa de mortalidade local de 1,7%. E tantas outros sofreriam complicações.

Vacina contra a Covid-19 (Foto: divulgação)

O levantamento do CDC é o primeiro grande resultado da fase 4 dos estudos de uma vacina. É a análise de vida real, depois da aprovação, tanto do sucesso da fórmula quanto do risco de reações adversas mais raras como essa, que só apareceriam depois de centenas de milhares ou milhões de pessoas serem vacinadas.

Ou seja, ocorrências do tipo são esperadas quando se está imunizando tanta gente ao mesmo tempo. “Elas acontecem com outras vacinas e com qualquer produto farmacêutico, até uma simples dipirona”, comenta a pediatra Flávia Bravo, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

O que é a anafilaxia

Trata-se do quadro mais sério de uma reação alérgica. Pessoas com alergia conhecida a alimentos, medicamentos, picadas de insetos ou substâncias químicas estão mais sujeitas a ela. São as portadoras das chamadas alergias urticariformes, que provocam urticárias, incham, fazem a pele coçar e a garganta fechar e por aí vai.

 “Essa categoria pode incluir tanto reações leves, como um inchaço no olho, até a anafilaxia, que evolui com vômitos, queda abrupta da pressão, chiado no peito e até morte, se não tratada”, explica a imunologista Ana Karolina Barreto Marinho, especialista da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai).

No caso das vacinas, o indivíduo precisa ter alergia a algum composto da fórmula. O mais comum é que ele já saiba da sensibilidade àquele ingrediente em si – ou seja hipersensível no geral. “A pessoa pode ter um sintoma brando e até imperceptível na primeira vez, que vai progredindo nas próximas aplicações. É muito raro alguém apresentar, logo de cara, uma reação anafilática”, aponta Ana.

Via de regra, a anafilaxia ocorre logo depois do contato com o alérgeno. No levantamento do CDC, 71% dos episódios aconteceram nos primeiros 15 minutos seguintes à vacinação. O tratamento é relativamente simples, com uma injeção de adrenalina, porém deve ser imediato.

Cuidados para os alérgicos ao tomarem vacinas

“Alérgicos podem e devem receber vacinas. Só é preciso tomar mais cuidado com quem já teve reações anafiláticas, e mesmo para eles existem protocolos de segurança que permitem a imunização”, reforça Ana.

O CDC, a Asbai e entidades de outros países se posicionam dessa maneira. “A orientação é perguntar antes da picada se a pessoa já passou por algo do tipo. A partir daí, a gente faz uma avaliação mais detalhada”, pontua a imunologista.

Indivíduos com histórico de alergia a algum composto presente na dose devem conversar com seus médicos de antemão para tomarem em conjunto a decisão. “Se optarem pela vacina, provavelmente será necessário ficar em observação por algum tempo”, complementa a médica da SBIm.

Por outro lado, portadores de rinite, bronquite ou sinusite não estão no grupo de risco. “A alergia respiratória tem mecanismos diferentes. Ela não está relacionada ao perigo de anafilaxia”, comenta Flávia.

Lições trazidas pelas reações adversas

Acontecimentos como os reportados com a vacina da Pfizer reforçam que a necessidade de aplicar a injeção sob supervisão, em locais com profissionais capacitados para identificar e tratar efeitos adversos. É o caso dos postos de saúde, por exemplo. “Esses episódios também mostram como a vigilância pós-vacina é importante para determinarmos a probabilidade exata de algo ocorrer e seguirmos monitorando a segurança das fórmulas”, diz Flávia.

De qualquer maneira, já se sabe que o benefício é muito maior do que o risco. São mais de 24 milhões de vacinados contra a Covid-19 no mundo, segundo o site Our World in Data, mantido pela Universidade de Oxford, na Inglaterra. Nenhuma morte foi comprovadamente associada às doses. Agora compare: entre o início de dezembro e os primeiros dias de janeiro, mais de 400 mil óbitos por Covid-19 foram contabilizados.

O documento do CDC mostra ainda que 0,2% das 1,8 milhões de pessoas que receberam o imunizante da Pfizer apresentaram algum efeito colateral, sem especificar quais ou a gravidade deles. Mas, com os estudos de fase 3 já divulgados das fabricantes Pfizer, Moderna e Astra Zeneca, dá para ter uma noção do que esperar.

“Todas as que divulgaram seus resultados finais são seguras e estão dentro do perfil esperado”, aponta Flávia. As reações, claro, variam de acordo com o imunizante. Desconforto no local da aplicação, dores de cabeça e febre são as mais frequentes. “E no mesmo percentual que observamos em doses contra outras doenças”, concluiu a especialista.

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