O presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou nesta quarta-feira que vai propor aos países da União de Nações Sul-americanas (Unasul) a realização de um referendo regional para que "os povos da América Latina" tomem uma decisão sobre o acordo militar entre Colômbia e Estados Unidos que permite aos americanos utilizar até sete bases no país sul-americano. "Se o presidente colombiano [Álvaro Uribe] não quer retirar as bases militares da Colômbia, por que não fazer um referendo da América do Sul?Que os povos decidam e que o império não imponha essas bases militares na América do Sul", disse Morales no Departamento (Estado) boliviano de Oruro.
A expansão da presença militar americana na Colômbia tem levantado a crítica do Equador e da Venezuela e preocupado até os governos mais moderados da América do Sul. Se aprovado, o acordo permitirá aos EUA manter 1.400 pessoas, entre militares e civis, em bases na Colômbia, pelos próximos dez anos. Os dois aliados afirmam que o acordo não é novo, mas apenas uma extensão do acordo de combate ao narcotráfico e às Farc chamado de Plano Colômbia.
Uribe preferiu não comparecer à reunião da Unasul no Equador --na qual o presidente equatoriano, seu desafeto, assumiu o comando da união--, preferindo fazer um giro de rápidas visitas aos chefes de Estado dos países da América do Sul para tranquilizá-los sobre o acordo militar --a Venezuela e o Equador não foram incluídos no roteiro. A Bolívia já rejeitou a presença de forças militares estrangeiras na região durante a cúpula de presidentes da Unasul realizada no último dia 10, onde também tentou sem sucesso convencer os outros 11 países-membros --entre eles o Brasil-- a aprovarem uma resolução para proibir este tipo de ação. "[O referendo] será uma democracia continental. Os povos dirão qual presidente está errado e qual presidente tem razão", sustentou Morales.
Provocação
O presidente boliviano afirmou que, atualmente, as bases militares americanas na América Latina "se concentram na Colômbia", o que considerou como "uma provocação do império para criar conflito entre os presidentes da América do Sul" com o objetivo de frear a integração almejada pela Unasul. O governo colombiano deixou claro que o acordo não prevê a instalação de bases americanas na Colômbia, mas a permissão para que forças dos EUA possam usar bases colombianas e sob comando colombiano.
Além disso, como informou o ministro da Defesa, Nelson Jobim, o governo colombiano vai dar garantias de que o uso compartilhado dessas bases não significa a realização de operações em outros países. Morales ressaltou, no entanto, que "esta classe de políticas de intervenção militar na América do Sul" cria conflitos e "desconfiança" entre presidentes.
Na segunda-feira passada (24), o presidente da Bolívia também falou sobre o assunto das bases, mas apontou que as Farc também são responsáveis pela presença dos EUA em território colombiano. "As Farc parecem ser o melhor instrumento do império e, com esse pretexto, os militares dos EUA vêm à Colômbia", opinou o governante boliviano. Assim como a Bolívia, Venezuela e Equador se opõem ao acordo entre Colômbia e EUA, enquanto outros países da região manifestaram sua preocupação, mas também seu respeito à soberania das decisões colombianas.