O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva optou por reabrir as investigações sobre a morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek, ocorrida em 1976, após a apresentação de um novo laudo pericial que questiona as conclusões anteriores sobre o acidente. A informação foi divulgada pela Folha de S.Paulo.
O laudo, elaborado pelo perito George Sanguinetti a pedido do Ministério Público Federal, aponta falhas nas investigações realizadas durante o regime militar. Segundo Sanguinetti, "a suspeita de sabotagem mecânica [do Opala de JK] não era infundada", mas o "desmantelamento total do veículo" pelos investigadores da ditadura no pátio da Delegacia de Resende (RJ) impediu que a perícia da época esclarecesse a questão. Além disso, nas perícias médicas da época, não foi realizado exame toxicológico para substâncias além do álcool, o que poderia ter revelado possíveis sinais de intoxicação ou envenenamento de Geraldo Ribeiro, o motorista de JK.
Diante dessas novas evidências, Nilmário Miranda, chefe da Assessoria Especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade do Ministério dos Direitos Humanos, decidiu retomar o caso. A iniciativa conta com o apoio da presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), procuradora Eugênia Gonzaga, e da maioria dos membros do colegiado. A reabertura das investigações visa ao esclarecimento da verdade histórica, sem implicações financeiras ou indenizatórias.
A morte de Juscelino Kubitschek ocorreu em 22 de agosto de 1976, quando o Opala em que ele estava, conduzido por seu motorista e amigo Geraldo Ribeiro, colidiu frontalmente com uma carreta na Rodovia Presidente Dutra, na altura do km 165, sentido Rio de Janeiro. As investigações conduzidas pela ditadura concluíram que o carro de JK foi atingido por um ônibus da Viação Cometa ao tentar ultrapassá-lo, causando a perda de controle do veículo.
No entanto, ao longo dos anos, surgiram diversas teorias que sugerem a possibilidade de assassinato, motivadas por inconsistências nas investigações e pela falta de transparência do regime militar. Em 2014, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) concluiu que não havia evidências de homicídio na morte de JK, baseando-se nos dados disponíveis na época.
A reabertura do caso pelo governo Lula busca aprofundar a análise das circunstâncias que envolveram a morte do ex-presidente, utilizando novas tecnologias e metodologias investigativas que não estavam disponíveis anteriormente. Espera-se que essa iniciativa possa trazer esclarecimentos definitivos sobre o episódio e contribuir para a memória e a verdade histórica do país.
A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos deverá se reunir nos próximos dias para definir os próximos passos da investigação e estabelecer um cronograma de atividades.