Após virar réu, Bolsonaro retoma o ataque às urnas e vê 'acusação infundada'

Por unanimidade, Primeira Turma da Corte aceitou denúncia da PGR contra ex-presidente e sete aliados.

Ex-presidente Bolsonaro | Antonio Augusto/STF Ex-presidente Bolsonaro | Foto: Antonio Augusto/STF
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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) negou nesta quarta-feira (26) qualquer envolvimento em uma tentativa de golpe de Estado, chamando as acusações contra ele de "graves e infundadas". Ele fez as declarações logo após se tornar réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe. 

A Primeira Turma da Corte, por unanimidade, decidiu acatar a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Bolsonaro e mais sete aliados, conhecidos como o "núcleo crucial" da trama golpista.

Eu espero hoje botar um ponto final nisso aí. Parece que tem algo pessoal contra mim. A acusação é muito grave, e são infundadas. E não é da boca para fora, afirmou Bolsonaro.

Em entrevista à imprensa, Bolsonaro afirmou que, durante seu mandato, solicitou a desmobilização de movimentos que defendiam intervenção militar no Brasil e que colaborou com a transição de seu governo para o de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

"Golpe tem povo, mas tem tropa, tem armas e tem liderança. Um ano, dois anos de investigação, não descobriram quem porventura seria esse líder", declarou Bolsonaro. 

RELEMBROU PRONUNCIAMENTO

O ex-presidente recordou o pronunciamento que fez no Palácio da Alvorada em 2 de novembro, logo após a derrota para Lula nas eleições de 2022. Ele ressaltou que, naquele momento, afirmou que manifestações pacíficas eram bem-vindas, mas que atos não deveriam levar à invasão de propriedades, destruição de patrimônio e restrição ao direito de ir e vir.

Ato contínuo, começamos a transição. Alguns dias depois desse pronunciamento, os caminhoneiros começaram a obstruir vias pelo Brasil. Eu fiz um vídeo pedindo que eles desmobilizassem. Não tinha intenção nenhuma em parar o Brasil, criar um caos ou estava pensando em outra coisa, disse.

SOBRE JOSÉ MÚCIO

Em seguida, afirmou que, durante a transição de governo, se reuniu com José Múcio Monteiro, indicado por Lula para o Ministério da Defesa, e que Múcio lhe pediu "um apoio". 

Ele [Múcio] foi pedir um apoio para mim, para que tivesse mais acesso aos respectivos ministérios. No dia seguinte, foi atendido em tudo. Voltou, depois, a entrar em contato conosco e pediu que eu nomeasse os comandantes militares indicados pelo presidente eleito, Lula da Silva. Foi o que eu fiz. Em dezembro, nomeamos dois comandantes. O outro saiu mais no final. Atendi ao presidente Lula. Se tivesse qualquer ideia de força, não deixaria os comandantes do Lula assumirem, afirmou.

A acusação da PGR, no entanto, aponta que Bolsonaro não tomou medidas para remover os acampamentos golpistas em frente aos quartéis do Exército. Além disso, afirma que, durante a transição para o governo Lula, o ex-presidente manteve reuniões com assessores e militares para planejar o golpe de Estado. 

SOBRE NÃO TER IDO AO STF HOJE

Bolsonaro explicou que não compareceu ao STF nesta quarta-feira porque "sabia o que ia acontecer" e sugeriu que há algo "pessoal" contra ele. O ex-presidente acompanhou a transmissão do julgamento no gabinete do filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Na terça-feira, no primeiro dia do julgamento, ele esteve presente na reunião da Primeira Turma. 

Ontem [terça], eu fui ao Supremo. A decisão foi na última hora, vocês se surpreenderam. Hoje [quarta], resolvi não ir. Motivo: obviamente, eu sabia o que ia acontecer, disse.

Em seu pronunciamento nesta quarta-feira, Bolsonaro repetiu suspeitas infundadas e fez acusações já refutadas sobre as urnas eletrônicas. 

Não sou obrigado a confiar, a acreditar no programador [das urnas]. Confio na máquina, não sou obrigado a confiar no programador, disse.

Minuta do golpe

Em sua declaração à imprensa, Bolsonaro comentou sobre a "minuta do golpe", um documento encontrado nas investigações que sugeria intervenção das Forças Armadas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele afirmou que não assinou o documento e que, para seguir com a proposta, precisaria convocar os conselhos da República e da Defesa.

"Aí seria o primeiro passo. Não adianta botar um decreto na frente do presidente, de estado de Defesa e assinar que está resolvido. Não convoquei os conselhos da República e da Defesa. Nem atos preparatórios houve pra isso. Se é que você trabalhar com um dispositivo constitucional é sinal de golpe. Golpe não tem lei, não tem norma", afirmou.

"Golpe tem conspiração com a imprensa, o parlamento, setores do Judiciário, setores da economia, fora do Brasil, Forças Armadas em primeiro lugar, sociedade, empresários, agricultores. Aí você começa a gestar um hipotético golpe. Nada disso houve", acrescentou.

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