Jovem teresinense cria dispositivo inédito para monitorar a qualidade da água 

O Rover Aquático Autônomo, desenvolvido por Manoel Nunes, é um dispositivo alimentado por energia solar que detecta alterações no pH

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O projeto de Manoel Nunes ganhou diversos prêmios em feiras científicas | Raíssa Morais/Arquivo pessoal/Raíssa Morais

Quando criança, a diversão do teresinense Manoel Nunes era passar o dia desmontando brinquedos e criando bugigangas a partir de peças de computadores antigos que seu pai, Ocimam Bonfim, trazia para casa. Essa curiosidade e habilidade para entender o funcionamento dos objetos só cresceram com o tempo. 

Hoje, aos 17 anos e no 3º ano do ensino médio, Manoel se dedica a um projeto que pode transformar a vida de muitas pessoas: um equipamento de baixo custo que monitora a qualidade da água.

Manoel Nunes, de 17 anos, desenvolveu um dispositivo para monitorar a qualidade da água (Foto: Raíssa Morais)

Com uma inclinação natural para a engenharia e a construção, Manoel Nunes buscou unir seu talento com um objetivo social: ajudar pessoas e beneficiar aqueles que mais precisam.

o SOCIAL

No ano passado, um estudo inédito feito pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz) identificou que peixes consumidos pela população em seis estados da Amazônia brasileira estão contaminados por mercúrio, com concentrações 21,3% acima do permitido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Ao tomar conhecimento dessa e de outras reportagens sobre a grave situação da contaminação de rios, Manoel refletiu que precisava construir algo que facilitasse a detecção de metais e de outros componentes que podem afetar a saúde da população. "Eu vi que a população ribeirinha estava sofrendo muito por contaminação de metais pesados, como o mercúrio. Pensei: por que não criar um equipamento que auxilie essas pessoas?" questionou ele.

Para a contrução do Rover Aquático, Manoel Nunes pensou na situação das comunidades ribeirinhas, que enfrentam a contaminação de rios (Foto: Raíssa Morais)

COMO FUNCIONA O PROJETO

Em um pequeno quarto de casa, seu laboratório improvisado, e utilizando materiais simples como cano de PVC e componentes impressos em 3D, Manoel desenvolveu um dispositivo autônomo movido a energia solar. 

Batizado de Rover Aquático Autônomo, o equipamento é capaz de monitorar o pH, a temperatura e a turbidez da água, detectando contaminações por esgoto e metais pesados, como o mercúrio. "Os sensores ficam em contato com a água. Ao detectar alterações nos parâmetros, o dispositivo envia um alerta automaticamente," explica Manoel.

Rover Aquático Autônomo é capaz de monitorar a qualidade da água (Foto: Raíssa Morais)

O valor de produção do dispositivo gira em torno de R$ 1 mil, e um segundo modelo mais avançado está em desenvolvimento, custando cerca de R$ 2 mil. A eficiência e a autonomia do dispositivo são pontos chave. "Eu vi que eles [setores públicos e privados] não têm um equipamento que fique lá por 24 horas. Eles utilizam uma equipe de pessoas. Um ser humano não pode ficar por 24 horas em um campo. Então, isso aqui é o que a gente chama de sentinela," diz Manoel.

O jovem desenvolveu o projeto em casa (Foto: Raíssa Morais)

Quando o dispositivo detecta uma mudança em algum parâmetro, ele imediatamente envia um alerta com a localização exata. A equipe então vai até o local, coleta a água e verifica se a contaminação é causada por lixo, plástico ou outro tipo de poluente.

RECONHECIMENTO E DESAFIOS

O projeto de Manoel não passou despercebido. Ele já participou de diversas feiras de iniciação científica, incluindo a Mostra Nacional de Robótica (MNR) na Bahia e a Feira Mineira de Iniciação Científica (FEMIC), onde ganhou medalha de ouro. 

Após ganhar o primeiro lugar na FEMIC, seu projeto foi credenciado para uma feira internacional de ciência em Porto Rico, em abril de 2024, onde ganhou ouro na categoria de engenharia e segundo lugar como maior projeto de todo o evento. "É uma felicidade imensa, porque eu vejo que anos de estudos e trabalho estão dando certo," celebrou Manoel.

Manoel Nunes já recebeu vários prêmios dentro e fora do país em razão da sua criação (Foto: Raíssa Morais)

Para custear a compra de uma impressora 3D, essencial para a criação de seus protótipos, Manoel começou a vender brownies na escola com a ajuda da mãe, Francinalda Sousa. “Manoel sempre foi muito aplicado e esforçado com o que ele quer. Também tem um trabalho voltado para essa área social. Assistindo a jornais e pesquisando, ele viu que muitas pessoas estavam morrendo de dengue. Então, quando menor, ele criou um dispositivo pequenininho e levou para uma feira de ciências da escola. Todo mundo ficou maravilhado,” relembrou a mãe.

Com orgulho, Francinalda Sousa mostra fotos da infãncia do filho (Foto: Raíssa Morais)

Apesar da dedicação e do foco de Manoel e sua família, os custos para as viagens e apresentações de seus trabalhos são altos. "Não conseguimos muitos recursos e tudo é por nossa conta. Por exemplo, a viagem para o México ficou em R$ 18.000 por causa dos vistos e outras despesas. Estamos nessa luta. Agora ele está se preparando para ir a Estocolmo, onde tudo será pago pela própria feira," explica Francinalda.

Francinalda Sousa apoia Manoel em suas viagens e ajuda o filho a arrecadar dinheiro para as viagens nacionais e internacionais (Foto: Raíssa Morais)

POR UM FUTURO MELHOR

Para Manoel, seu Rover Aquático pode ser especialmente útil em situações de desastres naturais, como as cheias no Rio Grande do Sul, ajudando a detectar contaminação por leptospirose e outros poluentes. "Eles estão tendo uma problemática séria agora com leptospirose. Só que a leptospirose é causada por dejetos de ratos. Quando o rato urina na água, altera drasticamente o pH. Eu não posso saber se é leptospirose, mas posso ter uma suspeita. Então, se o governo tivesse esse tipo de equipamento, as expedições seriam bem mais eficientes," explica Manoel.

Manuel Sousa sonha em ver seu projeto escalado e transformado em startup (Foto: Raíssa Morais)

Para o futuro, Manoel sonha em ver seu projeto escalado e transformado em uma startup. "Meu sonho é ajudar e fazer com que o projeto seja escalado e ajude pessoas. Vejo esse projeto realmente ajudando muito a população ribeirinha e aumentando a eficiência de como o governo e órgãos do setor privado identificam contaminações da água," afirma.



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