CIDADE DO VATICANO (Reuters) - O Vaticano disse nesta terça-feira que o papa Bento 16 está disposto a reunir-se com mais vítimas de abuso sexual, mas não sob pressão da mídia, e ridicularizou chamados para que o papa seja preso quando visitar a Grã-Bretanha, em setembro.
Um advogado do autor e ativista ateu britânico Richard Dawkins disse em Londres no fim de semana que tentará fazer com que o papa seja detido para ser interrogado com relação às acusações de que a Igreja teria acobertado casos de abusos sexuais de crianças por sacerdotes.
Indagado sobre isso em um briefing sobre a visita que o papa fará a Malta no fim de semana, o porta-voz do Vaticano padre Federico Lombardi zombou da ideia.
"É uma ideia no mínimo bizarra. Parece que a intenção é chamar a atenção da opinião pública. Acho que eles deveriam procurar algo mais sério e concreto antes de respondermos."
"A visita do papa (à Grã-Bretanha) é um visita de Estado. Seria muito estranho se, durante uma visita de Estado, a pessoa convidada a fazer a visita de Estado fosse detida", disse ele.
Cientista e crítico declarado da religião, Dawkins pediu a advogados de direitos humanos que estudem a possibilidade de serem feitas acusações criminais contra o papa durante sua visita à Grã-Bretanha, marcada para 16 a 19 de setembro.
O Vaticano rejeita acusações de que o papa, enquanto ocupava os cargos que ocupou antes de ser eleito pontífice, em 2005, teria ajudado a acobertar abusos cometidos por padres, e acusa a mídia de travar "uma campanha desprezível de difamação" contra ele.
Na semana passada o Vaticano disse que Bento 16, que viajará a Malta no sábado, estaria disposto a reunir-se com mais vítimas, como fez durante suas viagens aos Estados Unidos e à Austrália.
O papa acha que os encontros com as vítimas devem ser realizados "em um clima que seja intencionalmente de reflexão, discreto, e não sob a pressão do olhar da mídia, para que ele tenha a possibilidade real de ouvir e comunicar-se pessoalmente", disse Lombardi.
MALTESES PROCESSAM PADRES
Dez homens malteses que estão processando três padres por alegado abuso sexual infantil solicitaram um encontro reservado com o papa.
Lombardi disse que não pode informar se o encontro vai acontecer. "Não sou eu quem decide o que o papa faz durante suas viagens", disse Lombardi, acrescentando que tais encontros não são anunciados de antemão, mas apenas confirmados depois de acontecerem.
Um representante dos malteses disse que eles querem o encontro "para nos ajudar a superar esse trauma".
O papa ainda não se manifestou diretamente sobre a nova onda de alegações de abuso sexual que vem assolando a Igreja em vários países, incluindo os Estados Unidos, Itália e seu próprio país de origem, Alemanha. O papa mencionou o assunto pela última vez na carta que enviou ao povo irlandês em 20 de março.
Em Malta, onde cerca de 95 por cento de cuja população é católica, cartazes divulgando a visita papal foram pichados na semana passada com imagens relacionadas a abusos sexuais.
A crise em torno do abuso de crianças por religiosos não dá sinais de diminuir. Novas revelações vêm à tona quase diariamente, e o Vaticano está se esforçando para traçar uma estratégia de resposta.
Na segunda-feira o Vaticano publicou um manual online das normas para lidar com acusações de abuso sexual contra padres. O manual deixou claro que os bispos devem denunciar crimes à polícia, dizendo que "as leis civis relativas à denúncia de crimes às autoridades apropriadas devem sempre ser obedecidas."
Também na segunda-feira, um novo relatório encomendado pela Igreja na Alemanha disse que crianças foram "sadicamente atormentadas e sexualmente abusadas" em um mosteiro católico na região da Bavária, de maioria católica.