A probabilidade de um raio cair duas vezes no mesmo lugar --desde que tenha mais de 200 mil habitantes-- é cada vez maior no Brasil.
A principal causa é a urbanização. Estudo ainda inédito do Grupo de Descargas Atmosféricas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) revela que, entre 2009 e 2010, cresceu 11% a incidência de raios sobre o solo das áreas mais populosas.
A pesquisa compilou os raios registrados em 3.181 municípios e identificou o aumento entre as 92 cidades com mais de 200 mil habitantes. A comparação é feita com o período 2005-2008.
A rede de monitoramento não cobre todo o território do país, apenas áreas do Sul, Sudeste e Centro Oeste.
"No conjunto dos municípios analisados, a incidência cresceu 5%. Mas nas cidades maiores houve um aumento muito maior", diz Osmar Pinto Jr., líder do estudo.
De 2000 a 2009, 230 pessoas morreram em decorrências de raios no Estado de São Paulo.
Entre as cidades com mais de 200 mil habitantes, a localização das dez com as maiores incidências é sintomática.
Com exceção de Volta Redonda (RJ) --a primeira da lista entre as maiores--, as outras nove estão nas regiões metropolitanas do Rio e de São Paulo: Itaquaquecetuba, Diadema, Belford Roxo, Mauá, Suzano, Santo André, Duque de Caxias, São João de Meriti e a capital paulista.
Como raios estão associados a tempestades, a urbanização pode ser apontada como responsável pelo aumento, já que o calor exalado pelo concreto das construções propicia a formação de chuvas.
"Tanto essas cidades têm mais tempestades quanto elas estão, também, cada vez mais intensas", diz Pinto Jr. "Estamos falando de quase 15 milhões de raios por ano."
Na lista geral de cidades, Porto Real (RJ), às margens da via Dutra, é a vencedora do ranking. Nas duas versões anteriores da pesquisa, Guarulhos (2007/2008) e São Caetano do Sul (2005/2006), ambas na Grande São Paulo, estiveram no topo da lista dos raios.