O Twitter começou a usar uma espécie de bomba contra as demais redes sociais que o cercam. O mais recente adversário a sentir os efeitos da arma foi a rede de blogs Tumblr, impedida de autorizar seus usuários a buscar os amigos de Twitter. O Tumblr assim se une ao LinkedIn e ao Instagram na lista das empresas proibidas de pegar carona no gráfico social do Twitter, e há fortes expectativas de que o Flipboard seja o próximo.
O Tumblr, de sua parte, disse estar "verdadeiramente decepcionado com a decisão do Twitter". "Para nossa consternação, o Twitter restringiu a capacidade de nossos usuários para localizar amigos do Twitter no Tumblr", afirmou a companhia em declaração ao site de tecnologia "TechCrunch".
"Dado o nosso histórico de apoio à plataforma deles, isso é especialmente incômodo. Nosso serviço é responsável por centenas de milhões de tuítes, e permitimos alegremente o uso de Twitter Cards em nossos 70 milhões de blogs e 30 bilhões de posts, como um dos primeiros parceiros do Twitter."
Por que o Twitter está agindo assim? Se você raciocinar, é bem óbvio. Não quer que outras redes sociais, sejam elas estabelecidas ou ascendentes, peguem carona em seu gráfico social --a teia de interconexões de quem segue quem. Se analisado com eficiência, esse gráfico pode detalhar os interesses dos usuários e assim não só ajudar a construir uma rede social interessante mas facilitar sua monetização, especialmente via anúncios.
E é por isso que o Twitter passou a rejeitar os pedidos das redes sociais concorrentes, grandes ou iniciantes.
Além disso, o Twitter ocupa um lugar especial no ramo de redes sociais. É menor que o Facebook e talvez até que o Google+, mas seus usuários tendem a ser mais ativos e a ter interesses mais amplos. Isso faz deles, e de seus gráficos sociais, um ativo interessante para uma rede social que aspire a crescer e deseje conectar as pessoas.
Se o usuário puder transplantar facilmente seus amigos do Twitter para o Tumblr, há boas chances de que passe mais tempo no Tumblr. E isso não é o que o Twitter deseja, porque, se os usuários passarem menos tempo no Twitter, dedicarão menos atenção a seus anúncios.
O que o Twitter está dizendo para Tumblr, Instagram, LinkedIn e outras redes sociais que desejam se tornar destinos atraentes para os internautas é o seguinte: boa sorte. Nós conseguimos nossos usuários do modo difícil. Agora é a vez de vocês.
Aposto que, até o final do ano, só uma rede social poderá ampliar sua lista de usuários usando o banco de dados de conexões do Twitter. A exceção? A Posterous, que o Twitter adquiriu em março.
A estratégia parece óbvia a ponto de não justificar que as pessoas se surpreendam com ela. O Twitter, que já recebeu US$ 1 bilhão em investimento do setor de capital para empreendimentos, não está no ramo de distribuir de graça seu gráfico social.
Já vimos uma versão anterior dessa batalha. Em 2008, o Google cortou o acesso do Facebook, então uma rede social em ascensão, ao Google Contacts, o que impedia usuários de importar endereços de e-mail do Google ao seu (novo) perfil do Facebook.
O Google alegou que, em troca, o Facebook teria de prover acesso recíproco --algo que a rede de Mark Zuckerberg não aceitou. Anos mais tarde, a decisão do Facebook se mostrou acertada: imagine se o Google tivesse podido explorar os dados do Facebook para criar o Google+.
A tática da bomba parece igual em toda parte; tudo o que é preciso para empregá-la é que uma empresa do Vale do Silício se torne o equivalente a uma potência nuclear --e hoje em dia isso quer dizer uma rede social com dezenas de milhões de usuários.