Com piercing na língua, paralíticos guiam cadeira de rodas

No começo, eles apenas colaram o imã na língua do usuário, mas ele frequentemente se desprendia depois de algumas horas

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Martin Mireles conta que sua mãe não ficou muito feliz quando ele colocou um piercing na língua. Isso não combinava com a sua imagem de ex-líder da igreja jovem. Mas, como Mireles explicou, ele fez isso a título de pesquisa. Paralisado por um ferimento na medula espinhal, devido a um tiro no pescoço a quase duas décadas, foi recentemente equipado com uma viga magnética que permite que ele conduza sua cadeira de rodas com a língua.

Agora ele está ajudando pesquisadores na Northwestern University School of Medicine em um teste clínico dessa tecnologia, sendo financiado com quase US$ 1 milhão vindo de fundos de estímulo federais.

Mireles, 37 anos, testou o equipamento numa tarde recente, dirigindo a cadeira de rodas através de um campo de obstáculos cheio de latas de lixo. Com a boca fechada, ele deslocou o imã para mover-se para frente e para trás, para esquerda e para a direita. Esse estudo foi um dos quase 200 projetos selecionados de mais de 20 mil candidatos.

"Houve um fator "uau" aqui", diz Naomi Kleitman diretora de programa dos Institutos Nacionais de Saúde e especialista em pesquisas sobre ferimentos na medula espinhal. "Essa é mais ou menos uma ideia legal. A questão é: Ela vai funcionar bem o suficiente para que não seja apenas legal, mas prática também?" Cerca de 250 mil americanos possuem ferimentos graves na medula espinhal e especialistas estimam que aconteçam pelo menos 10 mil novos ferimentos por ano. Milhões sofrem de outros tipos de paralisia, compreendendo uma enorme gama de condições, incluindo derrames, esclerose múltipla e paralisia cerebral.

Os usuários de cadeiras de rodas já possuem diversas opções hoje em dia, inclusive a tecnologia "inspire e expire", usada pelo ator Christopher Reeve antes de seu falecimento em 2004, tecnologia na qual a cadeira é conduzida pelo ato de se respirar dentro de um canudo. Mas Maysam Ghovanloo, professor assistente de engenharia de computadores e elétrica no Instituto de Tecnologia da Geórgia, queria criar uma tecnologia que fosse mais agradável esteticamente - sem canudos obscurecendo o rosto - e mais intuitiva para os usuários, que proporcionasse melhor controle e maior flexibilidade.

Após ter trabalhado durante mais ou menos cinco anos no sistema de direção pela língua, Ghovanloo agora está conduzindo os testes clínicos conjuntos com a Northwestern, o Instituto de Reabilitação de Chicago e o Centro Shepherd, em Atlanta.

Como funciona?

Para operar o sistema, o usuário usa um aparato na cabeça, com sensores que captam os sinais magnéticos do anel na língua. Mover a língua para o canto superior esquerdo da boca, por exemplo, faz com que a cadeira mova-se para frente. (Os pesquisadores esperam que no futuro, um toque em cada dente possa sinalizar um tipo diferente de comando, de ligar a televisão, atender o telefone ou abrir a porta.)

Os pesquisadores decidiram usar a língua porque eles queriam tirar vantagem de algumas das funções ainda existentes em pacientes severamente deficientes. A língua não se cansa com facilidade, dizem eles, e geralmente não é afetada por uma lesão na medula espinhal porque é diretamente conectada ao cérebro por um nervo craniano.

No começo, eles apenas colaram o imã na língua do usuário, mas ele frequentemente se desprendia depois de algumas horas. A ideia do piercing veio da Dr. Anne Laumann, uma professora associada de dermatologia na Northwestern, que havia estudado arte corporal. Ann Carias, uma voluntária sem deficiência que teve a língua perfurada em favor da pesquisa, disse que houve dores durante alguns dias, mas que a língua curou-se com maior rapidez do que ela esperava. Quando ela testou a cadeira de rodas, disse que quanto mais ela usou o equipamento, mais fácil ficou conduzi-lo.

Carias, estudante de doutorado de 30 anos de idade, que possui diversos outros piercings e grandes tatuagens, disse que se sentiu julgada por causa de seus piercings em algumas ocasiões. Ela acha que essa tecnologia irá dar mais liberdade aos deficientes - e que poderia ser um benefício extra para outras pessoas também. "Acho ótimo que uma coisa que é tabu possa ser usada por razões terapêuticas", diz.

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