Há muitas vantagens em ganhar mais dinheiro, mas ter uma boa noite de sono pode não ser uma delas.
Parece que, de modo geral, quanto mais dinheiro as pessoas ganham, menos elas dormem. Isso é uma verdade há décadas nos Estados Unidos, assim como em outros países. Em média, os adultos que ganham as maiores rendas –por volta de US$ 98 mil para uma família de quatro pessoas– dormem 40 minutos a menos do que as pessoas nas famílias de renda mais baixa. E, entre os que dormem pouco –aqueles que estão no 10% mais baixo do descanso noturno–, as pessoas de renda mais alta estão representadas em excesso, segundo um levantamento do governo no qual os pesquisadores do sono mais confiam.
Dormir muito pouco realmente faz mal à saúde. Os pesquisadores demonstraram que, para a maioria das pessoas, dormir menos de seis horas por noite resulta em deficit cognitivo. Sono ruim também está associado a vários outros problemas de saúde e a um maior risco de morrer em acidente de carro./ De modo geral, o fator que parece mais estreitamente associado a quanto uma pessoa dorme é o quanto ela trabalha. Mais horas de trabalho tendem a reduzir as horas de sono. As pessoas que têm dois empregos são as que dormem menos. segundo um recente estudo, e mais provavelmente se encontram entre os 10% que menos dormem.
Considere a Grande Recessão: os americanos dormiram mais durante 2009, 2010 e 2011, quando o desemprego estava elevado. Isso provavelmente não ocorreu porque o estresse estava baixo ou as posturas em relação ao sono melhoraram –mas sim porque menos pessoas estavam trabalhando. Ou este fato: pessoas aposentadas dormem mais do que as pessoas em idade de trabalho, apesar da necessidade biológica de sono diminuir na velhice.
"O principal fator determinante do sono mais curto é na verdade o trabalho", disse Mathias Basner, um professor da Escola de Medicina da Universidade da Pensilvânia, que estuda as pessoas com sono curto. "Pessoas que trabalham mais horas são aquelas mais propensas a dormir menos.”
Outras atividades que parecem tomar desproporcionalmente o tempo daqueles com sono curto: transporte, assistir à televisão à noite e cuidados pessoais pela manhã, segundo o trabalho de Basner. Se você estiver tentando dormir mais sem reduzir suas horas de trabalho, Basner recomenda evitar a TV antes de dormir, passar menos tempo se arrumando para o trabalho e morar mais perto do trabalho.
Essas conclusões vieram de uma pesquisa chamada Levantamento do Uso do Tempo Americano. Pesquisadores do governo pediram a vários americanos que relatassem seu uso de cada minuto de um dia, e as respostas resultantes produziram um retrato de como as pessoas gastam seu tempo.
O fato de os ricos dormirem menos é a teoria dominante. Mas uma análise recente dos CDC (Centros para Controle e Prevenção de Doenças, na sigla em inglês) parecem ir contra essas antigas conclusões sobre o sono. Em um gráfico publicado na semana passada no Relatório Semanal de Morbidez e Mortalidade, os pesquisadores apontaram que pessoas que ganham abaixo do nível federal de pobreza apresentavam maior probabilidade do que qualquer outra faixa de renda de dizer que dormiam menos de seis horas. O gráfico gerou vários artigos na imprensa descrevendo o sono como um "artigo de luxo”.
Aqueles dados vieram de um pesquisa diferente, chamada Entrevista Nacional de Saúde, que pedia às pessoas que estimassem quantas horas de sono dormiam habitualmente em um dia útil. E essa metodologia pode ajudar a explicar por que difere tanto da literatura existente. Nos dados do levantamento de uso do tempo, as pessoas relataram o uso de cada minuto do dia anterior –o que significa que a memória está fresca e tudo é considerado. Mas, na Entrevista Nacional de Saúde, as pessoas apenas estimam uma média, um método menos provável de oferecer um resultado preciso, disseram vários especialistas em sono.
"Há dados federais muito melhores para fazer isso", disse Daniel Hamermesh, um professor de economia da Universidade do Texas, em Austin, e da Royal Holloway University, de Londres.
Hamermesh analisou os dados mais recentes de uso do tempo –não os dados da Entrevista Nacional de Saúde– e encontrou um resultado quase oposto ao encontrado pelos CDC. Pessoas de renda mais alta dormiam menos do que as pobres. E pessoas de renda mais alta apresentavam maior probabilidade de estarem entre o grupo que dormia menos.
A teoria econômica de Hamermesh sobre a relação entre renda e sono parece sólida: quanto mais você ganha, mais parece valer a pena sacrificar o sono por trabalho. (Há limites, é claro, já que a privação de sono afeta negativamente a produtividade, além de ser desagradável.)/
Mesmo assim, o estudo dos CDC levanta algumas questões interessantes sobre se há uma fração substancial de americanos de baixa renda que não dorme o suficiente. As pessoas de renda mais baixa não são todas iguais. Algumas trabalham muitas horas por baixos salários e acumulam vários empregos; outras podem trabalhar apenas meio período ou não trabalhar. Esses dois grupos de pessoas de baixa renda possuem padrões de sono muito diferentes.
Talvez tenhamos que esperar até obtermos uma conclusão firme. Quando lhe foi pedido que explicasse os resultados divergentes, Lindsay Black, a pesquisadora dos CDC que publicou o gráfico recente, disse que a resposta não é clara. "Os resultados dele estão corretos", ela disse, referindo-se a Hamermesh. "Assim como os meus.”