A pandemia trouxe complexidade, mas não impediu a realização do ProLíder, programa de formação de lideranças do Instituto Four, que forma jovens para atuar tanto no setor público como em empreendimentos sociais. Após um processo seletivo online com mais de 9,3 mil inscritos, o programa entra na sua 5ª edição com 50 jovens de 15 estados do país e atividades e mentorias por vídeoconferência. As informações são do O Globo.
Criado por Wellington Vitorino, o Instituto Four compartilha do mesmo "selo de excelência" de outro projeto social também criado por um jovem de origem periférica e que está fazendo a diferença ao unir gestão profissional e forte impacto social: o Gerando Falcões, de Edu Lyra. Ambos começaram com a bênção (e um cheque) do empresário Jorge Paulo Lemann.
— Nosso negócio é descobrir talentos, alavancar potencial e transformar potencial em potência — diz Wellington, que tem 25 anos e um senso de urgência para extrair o melhor da sua geração: — Estamos perdendo a janela do bônus demográfico. O futuro é hoje —, completa.
O ProLíder investe para atrair inscrições nos mais diferentes estados, nas capitais e no interior, com diversidade de raça, de gênero e de orientação sexual. São seis meses de formação sobre grandes temas do Brasil contemporâneo. Mentores incluem o economista Ricardo Paes de Barros, a ex-secretária de Educação do Rio Claudia Costin, Wilson Ferreira (CEO da Eletrobras) e André Street (co-fundador da Stone).
Dentre os 130 formandos das últimas quatro edições, há desde vereadores eleitos a uma empresária da Bahia que fundou uma empresa de absorventes sustentáveis, a Eco Ciclo. Outros negócios fundados por ex-alunos incluem a Crescere, uma escola de formação de desenvolvedores com foco em jovens de baixa renda, e o Legisla Brasil, que acelera mandatos de parlamentares compondo equipes e gerindo gabinetes de forma mais eficiente. O Legisla já está presente em 20 gabinetes pelo país.
Por trás desses empreendimentos, muitos jovens com histórias como a do próprio Wellington.
Nascido em Niterói e criado em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, Wellington começou a trabalhar aos 8 anos vendendo refrigerante nas praias da Zona Sul. O pai trabalhava de padeiro e a mãe, de auxiliar de dentista. Aos 12, conseguiu o “direito” de vender picolé num batalhão da Polícia Militar sob a condição de ir bem na escola. Era preciso apresentar o boletim. Pegou gosto e ingressou numa escola técnica, mas foi uma bolsa integral para cursar o terceiro ano do Ensino Médio na Escola Parque que o fez acreditar que podia ser quem quisesse na vida.
Tirou nota 1.000 na redação do Enem e entrou nas melhores universidades públicas e privadas do Rio. Optou pelo curso de administração no Ibmec, com bolsa integral. Dormia numa sala de professores de uma escola pública no Leblon para economizar o tempo do trajeto de quase 3 horas de sua casa até a Gávea.
Inspiração
A inspiração para criar o ProLíder surgiu numa provocação feita pelo publicitário Nizan Guanaes, com quem Wellington dividia um palco de um evento em 2015. Nizan falava da omissão de jovens privilegiados que não contribuem para melhorar o país.
Wellington, que também foi bolsista da Fundação Estudar, tomou a dor para si. Dias depois, fundou o ProLider com Everson Alcântara e Lucas Leal — deixando pra trás propostas de trabalho no mercado financeiro.
Hoje o Instituto Four também faz a aceleração dos empreendimentos de ex-alunos e organiza o Four Summit, um grande evento anual que lembra o Brazil Summit — evento para debater o Brasil organizado por estudantes brasileiros de Harvard e do MIT.
No ano passado, o encontro reuniu 81 CEOs de empresas e alguns políticos, em painéis, palestras e oficinas sobre política, economia e negócios, com 700 participantes. (Este ano, por conta da pandemia, não teve Four Summit.)
O instituto não tem fins lucrativos e ainda depende de doações. Mas a maior parte do orçamento já é comercial: cotas de patrocínio do Four Summit e também a venda de uma versão adaptada da metodologia do ProLíder para empresas. Os cursos in company já têm entre os clientes empresas como McDonald’s e Kraft Heinz.
No ano passado, Wellington deixou o dia a dia da operação do instituto para investir na própria formação. Passou um semestre em Boston aprimorando o inglês e assistindo aulas em Harvard.
No momento está gestando mais um empreendimento social, mas não revela detalhes. — Não vai fugir do que eu sou, com uma pegada transformacional. Mas prefiro a discrição e só falar quando tiver o que mostrar — diz Wellington. O passo seguinte já está traçado e ele, claro, sonha grande: quer se juntar à nova geração de jovens que estão renovando a política.