Por que carros alagados no RS estão aparecendo com o porta-malas aberto

As cenas de destruição causadas pelas chuvas no Rio Grande do Sul são chocantes. Dezenas de milhares de pessoas permanecem desabrigadas no estado, que ainda tem previsão de mais chuvas nos próximos dias. Nas imagens da tragédia, é comum ver carros com os porta-malas abertos, e apenas os porta-malas. O que poderia explicar esse fenômeno?

Durante enchentes, os carros podem ser arrastados pela correnteza. Em áreas onde o nível da água já baixou, é possível observar veículos com os porta-malas abertos. Segundo Filipe Fabian Buscariolo, professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Presbiteriana Mackenzie, essa abertura pode ocorrer devido à diferença de pressão entre o interior e o exterior do carro, além de possíveis curtos-circuitos no sistema elétrico da fechadura.

"Os porta-malas abrem por uma diferença de pressão criada entre o interior e o exterior do veículo, principalmente na região do porta-malas. A água vai entrando no veículo e vai fazendo com que o ar dentro do carro aumente de pressão e esse geralmente fica mais concentrado no porta-malas. Quando a água baixa, essa alta pressão força a trava do porta-malas e como não tem mais a água fora para equalizar a pressão, ele destrava ou quebra a fechadura do porta-malas. Além disso, a própria ação da água pode danificar a trava ou o sistema elétrico que a controla, assim destravando o porta-malas", afirma o professor.

200 MIL CARROS AFETADOS

Dependendo do veículo, a força exercida pelos amortecedores da tampa do porta-malas é tão intensa que, uma vez destravada, ela se abre automaticamente. Fontes do setor automotivo estimam que cerca de 200 mil veículos estacionados nas ruas e nas residências de seus proprietários foram afetados pelas enchentes. Esse número é ainda maior quando se consideram, por exemplo, carro zero quilômetro em concessionárias e pátios.

Além disso, itens como chave de roda, estepe e triângulo, que geralmente ficam no porta-malas dos carros, mantêm seu valor comercial no mercado paralelo mesmo após os alagamentos, o que pode incentivar furtos.