O médico Abdon José Murad Junior, 38, é um dos cirurgiões bariátricos mais conceituados do Maranhão. Filho do presidente do CRM-MA (Conselho Regional de Medicina) do estado, de quem leva o mesmo nome, Murad Junior costuma aparecer com frequência na mídia para falar sobre obesidade.
Apesar de ter boa reputação como médico e de ser membro de uma das famílias mais tradicionais do Nordeste, envolvida não só com medicina, mas também com política, ele é investigado por ter criado uma suposta pirâmide financeira. Um de seus clientes, também médico, alega que sua família perdeu R$ 7 milhões. Cansado de cobrar uma solução, ele até alugou um carro de som para pedir o dinheiro de volta publicamente, em frente à casa de Murad, em São Luís (MA). Procurado, o cirurgião não comentou as acusações.
A Polícia Federal e o MPF (Ministério Público Federal) instauraram inquéritos para averiguar o suposto esquema, que prometia até 15% ao mês de lucro sobre o aporte financeiro. Como os casos correm em segredo de Justiça, os órgãos não repassaram estimativa de prejuízo, número de possíveis vítimas ou outros dados.
"As investigações seguem sob sigilo visando garantir o necessário segredo de Justiça, sob pena de comprometer ou macular o resultado da coleta de provas", disse a PF em nota.
Advogados e investidores ouvidos pela reportagem disseram que a fraude pode beirar a casa dos R$ 300 milhões. Entre os principais lesados estão promotores, delegados, empresários, juízes e médicos, que disseram ter acreditado no cirurgião por causa de sua reputação.
(Por: UOL)
Murad Junior fundou a Abdon Murad Junior Participações e Empreendimentos, cujo nome fantasia é AMJ Participações, em novembro de 2017, conforme consulta do CNPJ da empresa na Receita Federal. Mas antes disso ele já captava recursos.
Segundo clientes, o cirurgião prometeu rendimentos de até 15% ao mês em cima de aportes financeiros. Isso seria supostamente conseguido com investimentos em fundos internacionais, Bolsa de Valores e em imóveis.
Para dar garantias, o cirurgião costuma formalizar contratos ou dar cheques com os valores prometidos. Os cheques, no entanto, eram sustados ou não tinham fundos, de acordo com os investidores.
Os atrasos nos pagamentos e as desculpas começaram no início de 2019. Algumas das justificativas foram problemas com supostas operações no exterior, lentidão para repatriar recursos de fora e, recentemente, coronavírus.
Um dos investidores foi o médico Hugo Sousa da Silva, 37. Junto com a família, ele disse ter investido R$ 7 milhões no negócio no ano passado, com a promessa de receber R$ 10,6 milhões de retorno. O valor seria pago em cinco parcelas. A família só conseguiu recuperar R$ 500 mil, disse Silva.
"Ninguém cai hoje em golpes de pirâmide financeira, mas o Murad Junior é médico, filho do presidente da CRM, está no topo da carreira e tem boa reputação. Ninguém iria desconfiar que ele pudesse prejudicar as pessoas", disse Silva.
Ele afirmou ter cobrado o cirurgião diversas vezes desde o ano passado, mas sempre havia uma desculpa. Ele alugou um carro de som e foi até a casa de Murad Junior para pedir seu dinheiro de volta.
"Doutor Abdon, devolva o dinheiro do povo, que não é seu. Você não tem o direito de ficar com o dinheiro das pessoas. Você está sendo uma vergonha para a classe médica", disse Silva no carro de som.