As forças de segurança do Egito usaram gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes perto do prédio do Ministério do Interior, no centro do Cairo, nesta quinta-feira (2). Centenas de pessoas deixaram o local às pressas, segundo testemunhas.
Ele protestavam contra o governo provisório militar, um dia depois da morte de 74 pessoas em uma briga após um jogo de futebol da primeira divisão do Campeonato Egípcio. Mais cedo, o premiê interino do Egito, Kamal al Ganzuri, reconheceu que tem "responsabilidade política" pelos distúrbios da véspera na cidade mediterrânea de Port Said.
A declaração foi feita em discurso no renovado Parlamento egípcio, que fez uma reunião de emergência para avaliar o incidente, que também deixou mais de mil feridos.
O premiê também anunciou a destituição dos dirigentes da Federação de Futebol do Egito e a demissão do governador de Port Said. Ele disse que todos seriam interrogados sobre os acontecimentos da véspera. O campeonato foi suspenso por tempo indeterminado.
O incidente fez aumentar a pressão sobre a junta militar que governa interinamente o Egito desde a queda do ditador Hosni Mubarak, no ano passado. Manifestantes indignados realizaram protestos, e torcedores e políticos acusaram a junta militar do país de negligência.
Jovens bloquearam as ruas próximas à sede da TV estatal e a emblemática praça Tahrir, no Cairo, e uma multidão se reuniu na principal estação ferroviária da cidade para receber torcedores feridos que chegavam do local da tragédia.
"Abaixo o regime militar", gritava a multidão ao ver os corpos cobertos sendo retirados dos trens.
Essa foi a pior tragédia na história do futebol egípcio, e o mais grave incidente de violência no país desde a queda de Mubarak, há um ano, dentro do contexto da chamada Primavera Árabe.
Batalha campal
Pelo menos mil pessoas ficaram feridas na invasão do campo e nas brigas nas arquibancadas ocorridas na quarta-feira à noite, ao final da partida entre o time local Al Masry e o Al Ahli, da capital.
Testemunhas disseram que muitos torcedores morreram prensados em portões trancados do estádio.
Políticos criticaram a escassa presença policial num jogo que já era considerado de alto risco, e alguns acusaram a junta militar de ter tolerado ou até mesmo provocado a briga.
A Irmandade Muçulmana, que domina o recém-eleito Parlamento, disse que uma mão "invisível" está por trás da tragédia.
Segundo o Ministério do Interior, o tumulto foi provocado por um grupo de torcedores que desejava deliberadamente causar "anarquia, distúrbios e corre-corre".
Centenas de moradores locais se reuniram nos arredores do estádio nesta quinta gritando "Port Said é inocente, isto é uma conspiração".
Críticos frequentemente acusam o Exército egípcio de semear a discórdia para solapar a transição para um regime civil, que os militares prometeram para meados deste ano, com a realização de eleições.
"O conselho militar quer provar que o país está se dirigindo para o caos e a destruição. Eles são homens de Mubarak. Estão aplicando a estratégia dele quando ele disse: "Escolham entre mim e o caos", diz o técnico de laboratório Mahmoud el Naggar, 30, membro da Coalizão da Juventude Revolucionária em Port Said.
O marechal Mohamed Tantawi, chefe da junta militar, concedeu uma rara entrevista telefônica ao canal de TV pertencente ao Al Ahli, prometendo identificar os culpados pela tragédia.
O Exército anunciou três dias de luto oficial.
"Lamento profundamente o que aconteceu na partida de futebol em Port Said. Ofereço minhas condolências às famílias das vítimas", afirmou Tantawi em declarações transmitidas pela TV estatal.
Mas isso não aplacou a ira dos torcedores. "O povo quer a execução do marechal", gritava a multidão na estação ferroviária do Cairo. "Vamos assegurar os direitos deles, ou morreremos como eles."