Mulheres que vivem em campos de assistência humanitária para deslocados internos pela guerra na Somália têm sido vítimas de abusos sexuais, incluindo estupro e outros tipos de violência, segundo a ONG de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch.
A ONG afirma que as mulheres, que deixaram suas casas no interior do país fugindo da violência do conflito armado entre tropas do governo e grupos rebeldes, têm sido vítimas de estupros coletivos em acampamentos de ajuda na capital, Mogadíscio.
De acordo com um relatório divulgado pela organização, os abusos têm sido praticados por membros de grupos armados, incluindo aparentemente integrantes das forças de segurança do próprio governo somali.
O relatório cita dados da ONU que indicam que mais de 800 estupros foram registrados entre setembro e novembro de 2012 em campos de ajuda humanitária de Mogadíscio e cidades satélites.
"Negócio lucrativo"
O relatório, intitulado Hostages of the Gatekeepers ("Reféns dos Guardas", em tradução livre), investigou a situação em que se encontram os que vêm fugindo do interior do país desde 2011 e vêm sendo alojados nos campos de ajuda humanitária mantidos ao redor da capital somali.
O documento destaca que administradores destes campos - normalmente aliados a milícias - desviam comida, medicamentos e outros recursos.
Segundo a ONG, a administração destes campos se tornou um negócio tão lucrativo que os funcionários impedem as pessoas de deixarem o local para poder explorá-las.
"Os próprios funcionários que controlam a entrada e saída desses campos são responsáveis por abusos cometidos", diz o diretor da sessão britânica da Human Rights Watch, David Mephan.
"Nossas investigações indicaram que as pessoas têm sido mantidas como prisioneiras nestes campos de ajuda a deslocados. Eles não têm permissão para sair e são submetidos a abusos pelos próprios funcionários."
Algumas das violações mais graves de direitos humanos são praticadas contra mulheres e meninas, que alegam ser sistematicamente estupradas. Muitos casos acabam não sendo denunciados pelo medo das mulheres de serem punidas e estigmatizadas por terem mantido relação sexual com um estranho, mesmo tendo sido forçada.
A analista da BBC para a África, Mary Harper, diz que a recente prisão de uma mulher (que já foi solta) após fazer uma denúncia de estupro aumenta ainda mais o temor das vítimas.
Outro lado
Em setembro do ano passado, um novo governo tomou posse no país, com apoio da ONU, com a esperança de botar fim a mais de 20 anos de conflito civil no país.
A Human Rights Watch acusa o novo governo de não ter cumprido as promessas feitas de acabar com os abusos.
Falando à BBC, o diretor da Agência Nacional de Gerenciamento de Desastres da Somália, Adbullahi Jimale, admitiu que esses crimes ocorreram. No entanto, ele salientou que o governo não poderia acabar com o problema em apenas um dia.