Pelo menos 173 pessoas já morreram em consequência da violência na Líbia desde o início dos protestos contra o governo, na quarta-feira, segundo a contabilização feita neste domingo pela ONG internacional Human Rights Watch.
Segundo a organização de defesa dos direitos humanos, o número inclui dezenas de pessoas mortas no sábado após as forças de segurança terem disparado com armas pesadas contra os manifestantes concentrados em Benghazi, a segunda maior cidade do país.
Milhares de pessoas vêm protestando nos últimos dias no leste do país contra o governo do coronel Muammar Gaddafi, no poder há 42 anos.
As informações sobre os protestos na Líbia são de difícil confirmação, já que o país restringe a atividade de jornalistas estrangeiros.
O controle do governo sobre as informações e sobre a internet dificulta a confirmação dos relatos das testemunhas em Benghazi.
A Líbia é um dos vários países árabes ou muçulmanos a enfrentar protestos pró-democracia desde os levantes populares que levaram à queda do presidente da Tunísia, Zine El Abidine Ben Ali, em janeiro.
Desde então, os protestos populares também forçaram a renúncia do presidente do Egito, Hosni Mubarak, no dia 11 de fevereiro.
Testemunhas
Testemunhas dos protestos deste sábado em Benghazi disseram à BBC que franco-atiradores atiraram nos manifestantes de prédios, enquanto parte das pessoas lutava com outros membros das forças de segurança no chão.
De acordo com o correspondente da BBC no Oriente Médio Jon Leyne, outras testemunhas dizem que um dos principais quartéis das forças de segurança foi tomado pela oposição.
Horas antes, pessoas que estavam no local disseram que uma força de elite do governo, com muitos franco-atiradores aparentemente estrangeiros, atiraram nos manifestantes. Eles estariam usando armas de fogo e morteiros contra os grupos de oposição.
Segundo Leyne, até agora os protestos se concentram na região leste do país. Benghazi, que fica a cerca de mil quilômetros da capital, é o maior foco de protestos contra o governo.
"Qualquer protesto na capital, Trípoli, seria um grande desafio para o governo do coronel Gaddafi. Esta já é a oposição mais forte que ele enfrentou em mais de quatro décadas de poder", disse o correspondente.
Um médico disse à BBC que a situação na cidade era "um inferno".
"Estou vendo pessoas feridas serem carregadas durante todo o dia. Elas foram alvejadas na cabeça e no peito, quebraram braços e pernas. Há tiroteios em toda a parte", disse.
Ele também sugeriu que mercenários estrangeiros pagos pelo governo da Líbia foram trazidos da África sub-saariana para atacar os manifestantes.
Outro morador disse à BBC que ao menos 40 pessoas teriam sido mortas neste sábado em um curto espaço de tempo.
"Por favor, por favor diga ao mundo que Gaddafi está matando as pessoas sem motivos. São manifestantes pacíficos", disse.
"Ele está trazendo franco-atiradores africanos para atirarem nas pessoas nas ruas de Benghazi, agora está atacando a própria cidade com mísseis."
"Não vamos parar"
A mídia estatal alertou a população de que haveria retaliação do governo se os protestos continuassem.
Apesar de as manifestações populares terem se espalhado por outras cidades do país, nada foi registrado ainda na capital.
A BBC confirmou que páginas de internet, incluindo o Facebook e o site do canal de televisão árabe Al-Jazeera, foram bloqueadas no país.
Apesar disso, redes sociais como o Twitter foram inundadas com atualizações sobre o que acontecia na cidade.
Um manifestante disse à BBC que as pessoas que protestam em Benghazi se manterão firmes. "Não temos escolha. Estamos sofrendo há 42 anos e não vamos parar."
Muammar Gaddafi governa a Líbia desde um golpe de estado em 1969. Ele é o líder que está a mais tempo no poder em todo o mundo.