Tropas egípcias entraram em confronto com manifestantes contrários ao governo militar no poder nesta sexta-feira (16), na pior onda de violência em semanas, que deixou dois mortos e mais de 170 feridos, ofuscando a contagem dos votos da segunda fase de uma eleição geral histórica.
Duas pessoas morreram, disse um funcionário do Ministério que solicitou anonimato.
Pouco antes, o porta-voz do Ministério da Saúde, Hicham Chiha, havia admitido à emissora estatal de TV a existência de uma vítima fatal, aparentemente morta por disparos.
Trata-se da primeira explosão de violência com vítimas fatais desde a morte de 42 pessoas no mês passado em confrontos semelhantes, pouco antes das eleições realizadas em 28 de novembro.
Os incidentes ocorreram depois que um manifestante ensanguentado relatou ter sido detido e espancado pelos soldados, o que provocou a ira de seus colegas que ameaçaram apedrejar os militares, informou uma das testemunhas, Mustafah Chechtawi.
Os soldados responderam com disparos para o ar, usaram canhões d"água e lançaram pedras contra os manifestantes. Segundo Mona Seif, militante de defesa dos direitos civis, os militares lançaram cadeiras do Parlamento, localizado nos arredores.
Os manifestantes acampam desde 25 de novembro em frente à sede de governo, a alguns metros da Praça Tahrir, no centro da cidade, para protestar contra a nomeçaão pelo exército de Kamas al Ganzuri, ex-premiê do derrocado presidente Hosni Mubarak, para dirigir o governo.
A emissora também informou que 32 membros das forças de segurança ficaram feridos, inclusive um oficial atingido por disparos feitos de uma arma que seria dos manifestantes.
Os manifestantes também atiraram bombas incendiárias conforme os protestos continuavam durante a manhã, com tropas e a polícia militar atacando repetidamente a multidão, relataram correspondentes da AFP.
"O povo pede a execução do marechal em campo", gritavam em coro, em referência à Hussein Tantawi, chefe do Supremo Conselho das Forças Armadas que assumiu o poder depois da saída de Mubarak.
No começo da tarde, a polícia militar recuou para uma rua lateral, mas os manifestantes foram atacados com pedras por homens à paisana de outro prédio do governo e, como resposta, quebraram as janelas dos escritórios do Ministro de Transportes.
O blogueiro Mostafa Hussein disse que os manifestantes conseguiram chegar à entrada de escritórios do gabinete depois de quebrar o portão frontal, mas foram expulsos por um grande número de tropas.
Um correspondente da AFP viu manifestantes ensanguentados sendo levados por seus colegas e uma sequência de prisões. As tropas liberaram posteriormente alguns dos manifestantes detidos.
O conhecido ativista Nur Nur, filho do ex-candidato à presidência Ayman Nur, foi visto atrás de um cordão da polícia militar mancando, com um grande ferimento na cabeça.
Um oficial militar culpou os manifestantes pela violência, dizendo à AFP que os soldados envolvidos nos confrontos tinham a missão de proteger o gabinete e não tentaram interromper a manifestação pacífica.
Mohamed ElBaradei, o ex-chefe de fiscalização nuclear da ONU, dissidente e candidato à presidência, condenou o que chamou de tentativa selvagem de dispersão da manifestação pacífica.
Em uma postagem no twitter, ele indagou: "mesmo se a manifestação fosse ilegal, deveria ter sido dispersada de forma tão selvagem e brutal, que em si é a maior violação de todas as leis e da humanidade?"
O partido Justiça e Igualdade da Irmandade Muçulmana, que está na frente nas eleições parlamentares até agora, condenou "o ataque aos manifestantes e a a tentativa de dispersá-los". O partido pediu aos militares para proteger os manifestantes de homens que davam um banho de pedras dos telhados.
Tantawi, em um gesto aparentemente para acalmar os manifestantes, ordenou o tratamento de todos os civis feridos em hospitais militares, que normalmente são melhor equipados que os civis, segundo informações da televisão estatal.