O bilionário Najib Mikati, indicado pelo grupo xiita Hezbollah a primeiro-ministro do Líbano, disse nesta terça-feira que não está ligado ao Hezbollah e que sua mão está "estendida a todos" para proteger a unidade e soberania do país.
Mikati, um muçulmano sunita, venceu a votação no parlamento com 68 votos, contra 60 para o ex-premiê Saad Hariri. O apoio do Hezbollah e seus aliados, entre eles partidos cristãos e drusos, foi considerado fundamental para que Mikati tivesse a quantidade de votos necessária.
"Isso (o triunfo de Mikati) não assinala a vitória de um lado sobre o outro. É a vitória do consenso sobre a diferença", disse o novo premiê, ressaltando que seu governo deverá servir todo o Líbano.
Ele também afirmou que nada justificaria uma recusa de algum partido político libanês em participar de seu governo.
Reação americana
Muitos sunitas libaneses não aceitam a indicação de Mikati, alegando que o Hezbollah forçou a derrubada do governo de Hariri.
Os Estados Unidos, que consideram o Hezbollah uma organização terrorista, manifestou preocupação com a mudança.
"Um governo controlado pelo Hezbollah teria claramente um impacto em nossa relação bilateral", disse a secretária de Estado americana, Hillary Clinton.
Ela disse que Washington iria acompanhar "cuidadosamente" os desdobramentos no país.
Por sua vez, Mikati - que já foi primeiro-ministro, em 2005 - disse à BBC que não está ligado "de nenhuma maneira" ao Hezbollah.
"Sou um político moderado. Estou sempre a uma distância igual de todos", afirmou.
O sistema político sectário libanês determina que o cargo de primeiro-ministro seja sempre ocupado por um muçulmano sunita, o de presidente por um cristão maronita e o de chefe do parlamento por um muçulmano xiita.
O líder do grupo xiita Hezbollah, Hassan Nasrallah, pediu em um comunicado transmitido ao vivo por vídeo na cidade de Baalbek que o novo primeiro-ministro faça um governo de coalizão, que inclua todas as facções sectárias e políticas do país.
"Apoiamos a indicação de Mikati e pedimos a ele que forme um governo de participação nacional. Os libaneses tem a chance de se unirem", disse.
Violência
O empresário foi anunciado como primeiro-ministro em meio a protestos de partidários do ex-premiê Saad Hariri na cidade de Trípoli, no norte do país, e em Beirute. Hariri condenou os atos de violência.
Em Trípoli, onde nasceu Najib Mikati, médicos dizem que pelo menos 20 pessoas foram feridas, e os manifestantes atearam foto a um caminhão usado pela rede de televisão Al-Jazeera.
Em Beirute, manifestantes atearam fogo em pneus e bloquearam ruas.
O ex-premiê Saad Hariri foi à televisão para pedir calma a seus partidários, dizendo que rejeitava "qualquer forma de tumulto e atos contra a lei que acompanhem estas demonstrações".
Ele disse ainda que lamentava profundamente o ataque ao caminhão da Al-Jazeera.
O governo de unidade nacional liderado por Hariri foi dissolvido depois que 11 ministros - a maioria deles do Hezbollah e seus aliados - anunciaram suas renúncias, em 12 de janeiro.
A decisão foi tomada em protesto contra uma decisão do Tribunal da ONU que investiga o assassinato do pai de Hariri, o ex-premiê Rafik Hariri, em 2005.
O Líbano vive uma crise política que se arrasta há vários meses em torno do tribunal e o possível indiciamento de membros do Hezbollah por envolvimento na morte de Hariri.
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