O jejum é uma prática religiosa comum em várias culturas ao redor do mundo, mas poucos são tão radicais quando o Santhara.
O ritual exigente é uma parte do Jainismo, uma das religiões mais antigas do mundo, que envolve os participantes fazendo um juramento de parar de comer até que eles, literalmente, morram de fome.
De acordo com os jainistas, esta é uma maneira infalível para purgar-se do karma ruim e alcançar o "Moksha" - a libertação do ciclo mundano de morte e reencarnação.
Todos os anos, centenas de jainistas, em toda a Índia, assumem o juramento oneroso - alguns são monges, outros são pessoas comuns. Curiosamente, mais de 60% dos participantes são do sexo feminino, e acredita-se que as mulheres possuam temperamento mais forte do que os homens. A prática é mais popular entre os jainistas que estão doentes ou moribundos, mas também há casos de pessoas saudáveis que participam.
Quando um Jain sente que entrou na fase final da vida, e não possui um trabalho significativo para cumprir, ele poderá solicitar a permissão de seus amigos, família, e de seu guru para assumir a prática do Santhara, também conhecido como Sallekhana ou Samadhi-Marana.
Uma vez aprovado, o Jain precisar abandonar, gradualmente, o consumo de alimentos e líquidos. Durante este tempo, ele deve aprender a abrir mão de todos os apegos mundanos e fazer as pazes com a morte. Se ele não for capaz de fazer isso, significa que não conseguiu o voto e deve desistir do jejum.
O mais longe que um Jain conseguiu permanecer vivo no juramento, foi 87 dias. O feito foi alcançado pelo monde Rajasthani Sadhvi Charan, de 60 anos, em 2009.
Desde que os seguidores de Santhara foram glorificados publicamente, milhares de jainistas se reuniram para ver Sadhvi em seus últimos momentos de vida. Mais de 20.000 pessoas celebraram a sua passagem da vida para a morte.
O Santhara é um evento tão significativo para os jainistas que a informação sobre os seus participantes é publicada nos jornais locais, de modo que as pessoas possam testemunhar as horas finais dos fiéis. Os espectadores vão, muitas vezes, vestidos de branco, ou até mesmo nus, por respeito a pessoa que está morrendo. Quando eles sentem a morte se aproximando, eles começam a cantar os nomes de seus deuses. A morte em si é recebida com lágrimas e luto silenciado.
O jejum espiritual foi motivo de polêmica nos últimos anos. Os que são contra, iguala o feito do ritual ao suicídio que jainistas idosos são obrigados a cometer. Eles consideram isso uma infração penal e pedem que ele seja banido. Mas os jainistas argumentam que eles têm o direito à liberdade religiosa, de acordo com a Constituição da Índia. Eles insistem que a prática é normal e deve ser tratada com respeito. Segundo eles, não é suicídio, pois as pessoas têm a opção de mudar de ideia durante o jejum e continuar vivendo.
Acima de tudo, jainistas acreditam que o Santhara seja uma forma de sacrifício, sendo capaz de testemunhar que essa é “a maior bênção” de uma vida. "Todos os dias ao longo do ano, um Jain em algum lugar do país faz este voto sagrado", disse Babulal Ujjwal, editor Jain de uma publicação religiosa.
A prática de 2.000 anos de idade continua sendo conhecida dentro da comunidade Jain como uma forma graciosa de abraçar a morte.
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