O governo da Líbia vai tentar dialogar com as cidades rebeladas do leste do país antes de "usar a força", disse nesta segunda-feira (28) o vice-chanceler Khaled Kaim.
Questionado em entrevista se o governo do contestado ditador Muammar Kadhafi iria usar a força para retomar Bengazhi e outras cidades tomadas pela rebelião, ele disse: "Vamos esperar até todas as outras tentativas terem se exaurido".
"Se todas as tentativas e esforços de diálogo falharem, uma muito bem orientada força vai ser usada, de acordo com as regras internacionais."
Kadhaffi teria indicado o chefe do serviço de inteligência do país no exterior, Bouzaid Dordah, para negociar com os rebeldes, segundo a TV Al Jazeera. Uma fonte do governo, que não quis se identificar, confirmou a informação à agência Reuters.
Na véspera, um porta-voz do recém-formado Conselho Nacional Líbio, com sede na cidade de Benghazi, disse que não via espaço para negociar com Kadhafi.
Enquanto isso, forças leais a Kadhafi voltaram a atirar para o alto e dispersaram cerca de 400 manifestantes que protestavam contra o governo no distrito de Tajoura, leste da capital.
Vários veículos utilitários surgiram na praça onde estavam os manifestantes. Os ocupantes, usando bandanas verdes, desceram dos carros e começaram a disparar para o ar, para dispersar as pessoas. Não há notícias sobre feridos, segundo testemunhas.
Aeronaves teriam bombardeado um depósito de armas em Djabiya, no leste líbio, segundo fontes de segurança. Ninguém teria se ferido.
A Líbia enfrenta uma grave crise política, com o governo do ditador Kadhafi, desde 1969 no poder, reprimindo violentamente protestos oposicionistas. Apesar da repressão, que provocou centenas de mortes, os rebeldes ganham terreno e ameaçam o domínio do coronel sobre a capital, Trípoli.
Apesar da ameaça de caos humanitário e da crescente pressão internacional por sua saída, Kadhafi insiste em dizer que controla o país e que não deixará o poder.
Em entrevista à correspondente Christiane Amanpour, ele disse que se sente "abandonado" pelo Ocidente, no que qualifica de uma "guerra contra a al-Qaeda".
Nesta segunda-feira um porta-voz adotou um tom mais conciliador, e admitiu que as forças do governo alvejaram civis, por estarem mal treinadas.
"Eles atiraram e mataram alguns civis", disse o porta-voz Mussa Ibrahim. "Nunca negamos que centenas de pessoas tenham sido mortas", afirmou, acrescentando que a revolta "começou como um movimento pacífico e genuíno".
"Também acreditamos que é hora de mudança", disse. "Mas esse movimento foi sequestrado pelo Ocidente (...) e por militantes islâmicos."
Analistas regionais acreditam que os rebeldes acabarão por tomar a capital, matando ou capturando Kadhafi.
Mas acrescentam que o ditador tem força suficiente para fomentar o caos ou uma guerra civil - possibilidade para a qual ele e seus filhos já alertaram.
As forças de oposição controlam grande parte das instalações petrolíferas da Líbia, localizadas principalmente no leste do país, onde as forças pró-Kadhafi se dissolveram. As exportações de petróleo foram praticamente paralisadas, gerando alta de preço e apreensão na comunidade internacional.