O primeiro-ministro francês, François Fillon, e seu colega canadense, Stephen Harper, pediram neste sábado às autoridades líbias "o fim imediato da violência" contra a população. Em comunicado conjunto, os dois políticos sublinharam o pedido de seus países para que o governo líbio respeite também os direitos humanos "e garanta o acesso livre à ajuda humanitária".
A informação foi anunciada após uma conversa telefônica mantida neste sábado a pedido do canadense a respeito da crise líbia, na qual destacaram que a repressão exercida contra os opositores ao regime de Muammar Kadafi "não diminuiu".
Os dois representantes manifestaram também o desejo que se adotem e apliquem "o mais rápido possível" as sanções que o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) debate neste sábado contra Kadafi pela repressão exercida nos protestos civis.
França e Canadá anunciaram neste sábado que pela "degradação das condições de segurança no país" suspenderam temporariamente as atividades de suas respectivas embaixadas na Líbia e evacuaram os funcionários dessas delegações diplomáticas, incluindo o embaixador.
Líbios enfrentam repressão e desafiam Kadafi
Impulsionada pela derrocada dos presidentes da Tunísia e do Egito, a população da Líbia iniciou protestos contra o líder Muammar Kadafi, que comanda o país desde 1969. As manifestações começaram a tomar vulto no dia 17 de fevereiro, e, em poucos dias, ao menos a capital Trípoli e as cidades de Benghazi e Tobruk já haviam se tornado palco de confrontos entre manifestantes e o exército.
Os relatos vindos do país não são precisos, mas tudo leva a crer que a onda de protestos nas ruas líbias já é bem mais violenta do que as que derrubaram o tunisiano Ben Ali e o egípcio Mubarak. A população tem enfrentado uma dura repressão das forças armadas comandas por Kadafi. Há informações de que Força Aérea líbia teria bombardeado grupos de manifestantes em Trípoli. Estima-se que centenas de pessoas, entre manifestantes e policiais, tenham morrido.
Além da repressão, o governo líbio reagiu através dos pronunciamentos de Saif al-Islam , filho de Kadafi, que foi à TV acusar os protestos de um complô para dividir a Líbia, e do próprio Kadafi, que, também pela televisão, esbravejou durante mais de uma hora, xingando os contestadores de suas quatro décadas de governo centralizado e ameaçando-os de morte.
Além do clamor das ruas, a pressão política também cresce contra o coronel Kadafi. Internamente, um ministro líbio renunciou e pediu que as Forças Armadas se unissem à população. Vários embaixadores líbios também pediram renúncia ou, ao menos, teceram duras críticas à repressão. Além disso, o Conselho de Segurança das Nações Unidas fez reuniões emergenciais, nas quais responsabilizou Kadafi pelas mortes e indicou que a chacina na Líbia pode configurar um crime contra a humanidade.