O ex-ditador argentino Jorge Rafael Videla morreu nesta sexta-feira em sua cela, aos 87 anos. Videla foi o cérebro da ditadura que governou a Argentina entre 1976 e 1983, período em que desapareceram cerca de 30 mil pessoas, segundo organizações de direitos humanos.
O ex-ditador foi condenado a várias penas de prisão perpétua por crimes contra a humanidade durante o governo militar. Videla, que estava detido em uma prisão comum da província de Buenos Aires, morreu de causas naturais, segundo o canal C5N.
"Durante a noite não se sentia bem, não queria jantar e esta manhã o encontraram morto na cela", disse à imprensa Cecilia Pando, presidente da Associação de Familiares e Amigos de Presos Políticos da Argentina (AFYAPPA), como se autodenominam os militares condenados por crimes na ditadura.
Videla foi condenado pela primeira vez em 1985 a passar o resto da vida atrás das grades por terrorismo de Estado. Mas, em 1990, o então presidente Carlos Menem o indultou. Na ocasião, no entanto, não foram julgados os roubos de bebês, razão pela qual Videla voltou à prisão em 1998, onde permaneceu somente 38 dias. Por estar acima dos 70 anos, conseguiu o benefício da prisão domiciliar.
Em 2008, Videla regressou ao cárcere. E, em 2010, depois da anulação das leis de perdão e indultos pelo governo de Néstor Kirchner, o ex-ditador foi condenado pela segunda vez à prisão perpétua pelos crimes contra a humanidade cometidos na província de Córdoba.
Além de ter sido condenado à prisão perpétua, o ex-general foi destituído da patente militar pela justiça civil, que ele nunca reconheceu.
"Como fiz antes, quero manifestar que este tribunal carece de competência e jurisdição para me julgar pelos casos protagonizados pelo exército na luta contra a subversão", disse na terça-feira passada ao depor em um julgamento sobre o Plano Condor, a coordenação da repressão das ditaduras do Cone Sul .
Quase 500 crianças foram roubadas por militares, policiais ou outras pessoas durante a ditadura, de acordo com a organização Avós da Praça de Maio, cujos trabalhos permitiram que 108 delas recuperassem a verdadeira identidade.
Videla, Massera e Agosti, os líderes do golpe
Junto a Emilio Massera e Orlando Agosti, Videla liderou o golpe de Estado do dia 24 de março de 1976 que derrubou a presidente María Estela Martínez de Perón, terceira esposa do três vezes governante Juan Domingo Perón.
Massera, comandante da Marinha argentina, morreu em novembro de 2010, enquanto Agosti, que liderava a Força Aérea ao momento do golpe, morreu em outubro de 1997. Igual sorte teve Roberto Eduardo Viola, comandante do Exército argentino que sucedeu Videla à frente da Presidência de fato, cargo que ocupou entre 29 de março de 1981 e 11 de dezembro do mesmo ano.
O terceiro governante do regime ditatorial, Leopoldo Galtieri, que presidiu o país entre 1981 e 1982, morreu em 12 de janeiro de 2003. Em março passado também faleceu José Alfredo Martínez de Hoz, ministro da Economia da ditadura e artífice das medidas neoliberais implementadas durante o regime.
Bignone, único sobrevivente
O único sobrevivente entre os máximos responsáveis do denominado "processo de reorganização nacional" é Reynaldo Bignone, presidente de fato entre 1º de julho de 1982 e 10 de dezembro de 1983, quando Argentina recuperou a vida democrática.
O ex-militar foi sentenciado em março passado à prisão perpétua por crimes de lesa-humanidade cometidos no centro clandestino de detenção da guarnição militar de Campo de Mayo, nos arredores de Buenos Aires, pena que se uniu a outras anteriores por sua atuação durante a ditadura.
Bignone, 85 anos, negociou a transição à democracia após assinar uma Lei de Anistia, que foi cancelada mais tarde, e ordenar a destruição de toda a documentação sobre detenções, torturas e assassinatos de desaparecidos.