Europa deve receber enxurrada de produtos chineses após tarifas dos EUA

UE prepara medidas de emergência para evitar desvio de produtos asiáticos após barreiras comerciais dos EUA

Bandeiras da União Europeia | Foto: Yves Herman/Reuters Bandeiras da União Europeia | Foto: Yves Herman/Reuters
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Uma enxurrada de produtos chineses com preços reduzidos pode em breve atingir o mercado europeu, pressionando ainda mais uma economia já fragilizada pelas recentes tarifas impostas pelos Estados Unidos. Analistas alertam que as medidas protecionistas de Donald Trump contra a China e o Vietnã podem redirecionar um fluxo massivo de bens industriais e eletrônicos para a União Europeia, forçando Bruxelas a agir rapidamente para proteger suas indústrias.

O gatilho foi puxado nos EUA

As novas tarifas de até 46% sobre importações chinesas e vietnamitas estão entre as mais duras em mais de um século, segundo dados do Yale Budget Lab. Com a China enfrentando uma taxa combinada de 54% em alguns setores, os exportadores asiáticos agora buscam mercados alternativos — e a Europa, com seu mercado integrado e demanda estável, é um alvo óbvio.

Bruxelas se prepara para retaliar

Autoridades europeias já sinalizaram que estão monitorando de perto os fluxos de importação e podem impor tarifas de salvaguarda emergenciais, semelhantes às aplicadas em 2018 contra o aço chinês. "Podemos fechar nossos mercados se houver um influxo repentino de produtos subsidiados", afirmou um alto funcionário da Comissão Europeia. A UE já elevou tarifas sobre veículos elétricos chineses para 35%, mas agora avalia aumentar ainda mais as barreiras para outros setores.

Alemanha em risco duplo

Como maior economia da Europa, a Alemanha é particularmente vulnerável. Seus exportadores já sofrem com as tarifas americanas sobre carros e aço, e agora enfrentam a ameaça de concorrência desleal de produtos chineses com preços artificialmente baixos. "Isso pode pressionar ainda mais as empresas alemãs e agravar a estagnação econômica", alertou Clemens Fuest, do Instituto Ifo.

O fantasma do dumping chinês

A China tem um histórico de inundar mercados com excesso de produção, especialmente em setores como aço e energia renovável. Dados da OCDE mostram que a capacidade global excedente de aço pode atingir 721 milhões de toneladas até 2027 — cinco vezes a produção anual da UE. "As salvaguardas atuais da Europa são insuficientes", criticou Axel Eggert, da Eurofer.

Pressão sobre o BCE

Se a onda de importações baratas suprimir os preços internos, o Banco Central Europeu pode ser forçado a cortar juros mais rapidamente, mesmo com a inflação ainda acima do desejado. Essa dinâmica coloca os formuladores de políticas em um dilema: proteger a indústria ou evitar desequilíbrios monetários.

Relações UE-China sob tensão

Embora alguns esperassem que as tarifas de Trump aproximassem Bruxelas e Pequim, o oposto está ocorrendo. A UE acusa a China de distorcer o comércio com subsídios estatais e já abre investigações contra setores como trens e turbinas eólicas. "Não vejo a China mudando seu modelo de exportação", desabafou um diplomata europeu.

O temor de uma guerra comercial global

As ações de Trump marcam uma virada histórica no comércio internacional, com países agora adotando medidas cada vez mais protecionistas. Para a Europa, o desafio será equilibrar a defesa de suas indústrias sem desencadear retaliações em cascata. Como resumiu Carsten Brzeski, do ING: "O pior pesadelo econômico da Europa acabou de se tornar realidade".

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