Enviado americano tenta mediação para evitar confronto no Egito

Visita de William Burns é vista como última chance para evitar confronto. Governo pedem a manifestantes para que se retirem de praças no Cairo.

Apoiadores do presidente deposto Mohamed Morsi | Reprodução/Internet
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O secretário de Estado adjunto dos estados Unidos, William Burns, realiza neste sábado (3) uma tentativa de mediação no Egito para evitar que a dispersão anunciada das manifestações de partidários de Mohamed Mursi se transforme em um banho de sangue.

Esta visita surpresa é vista como uma das últimas chances de evitar o confronto entre as forças de ordem e os milhares de militantes da Irmandade Muçulmana que ocupam duas praças do Cairo há um mês, para exigir o retorno ao poder do presidente islamita deposto, destituído e preso pelo Exército no dia 3 de julho.

Um verdadeiro balé diplomático foi registrado nos últimos dias no Cairo, promovido principalmente por autoridades da União Europeia e da União Africana, mas, até o momento, não houve resultados concretos.

A Polícia e o Exército preparam suas armas, e o Ministério do Interior pediu pela segunda vez neste sábado que os manifestantes se retirem das praças Rabaa al-Adawiya e Nahda.

"Uma saída pacífica e com toda segurança permitirá à Irmandade Muçulmana desempenhar novamente um papel no processo político democrático", acrescentou o ministério em um comunicado.

A comunidade internacional teme que a dispersão dos manifestantes nas praças, onde foram erguidas barricadas com mulheres e crianças, se transforme em um massacre em meio a um momento particularmente violento no país. Mais de 250 pessoas morreram em um mês, principalmente manifestantes pró-Mursi, durante confrontos com as forças de ordem ou com militantes contrários ao presidente deposto.

Na noite de sexta-feira para sábado, a mobilização da Irmandade Muçulmana, movimento de Mursi, parecia perder força. A confraria fez um apelo por mais duas mobilizações na cidade e pela organização de quatro passeatas em direção às sedes do Exército e da Polícia, mas todas essas iniciativas não se concretizaram.

A Polícia imediatamente evitou uma tentativa de instalação de um acampamento feita por um pequeno grupo de manifestantes, e os moradores impediram alguns outros de se concentrarem em uma praça do centro da cidade. Poucos aderiram às passeatas e elas não conseguiram se aproximar das sedes das forças de segurança.

"Esmaguem-nos"

As autoridades instituídas pelo Exército, apoiadas por grande parte da população e pela imprensa, estão determinadas a usar a força nas praças Rabaa al-Adawiya e Nahda.

Um verdadeiro balé diplomático teve início para que as autoridades atuem com moderação e a Irmandade Muçulmana deixe as praças de forma ordeira.

O vice-presidente interino e prêmio Nobel da Paz, Mohamed ElBaradei, considerou que não poderá conter por muito tempo os falcões do governo e do Exército, que defendem uma ação enérgica contra os manifestantes islamitas.

"As pessoas estão muito chateadas comigo, porque eu digo "vamos dar um tempo, vamos conversar com eles". O ambiente hoje é "vamos esmagá-los, não vamos conversar com eles", disse ElBaradei em uma entrevista concedida ao Washington Post, acrescentando: "Eu tento contê-los, mas não conseguirei por muito tempo".

A visita de William Burns ocorre após uma declaração polêmica do chefe da diplomacia americana, John Kerry, que provocou revolta entre os pró-Mursi, ao considerar que os militares haviam "restabelecido a democracia" quando destituíram Mursi a pedido de "milhões e milhões de manifestantes".

Kerry "pediu a William Burns que vá novamente ao Egito para manifestar as suas lideranças a importância de evitar a violência e para ajudar em uma solução pacífica para a crise, e também para defender um processo político envolvendo todas as partes", explicou a assessoria do secretário de Estado adjunto antes de sua chegada, na noite de sexta.

O presidente interino, Adly Mansour, prometeu eleições legislativas para o início de 2014.

O tom da visita de Burns, que contrasta com as afirmações de John Kerry na quinta, mostra a hesitação do governo americano frente à crise vivida por seu principal aliado na região, peça fundamental no processo de paz entre israelenses e palestinos.

Washington concede todos os anos 1,3 bilhão de dólares ao Exército egípcio e, se os Estados Unidos tivessem classificado como golpe de Estado a destituição de Mursi, a lei americana estabelece que essa ajuda teria de ser imediatamente suspensa.

A Irmandade Muçulmana acusou na sexta-feira os Estados Unidos de serem "cúmplices" do golpe de Estado e o líder da Al-Qaeda, o egípcio Ayman al-Zawahiri, afirmou neste sábado que a destituição de Mursi é resultado de um "complô americano" com o "conluio" do Exército e da minoria cristã copta do Egito.

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