Egito vive sexta-feira de ódio e sangue; mortos podem passar de 100 pessoas

Os islamitas da Irmandade Muçulmana dizem que o número passa de 100, enquanto o governo interino tem uma contagem menor.

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Dezenas de pessoas morreram durante as manifestações realizadas em todo o Egito durante a chamada "sexta-feira da ira", movimento convocado por seguidores do presidente deposto Mohamed Mursi depois do massacre da última quarta-feira. Os números são conflitantes, mas informações dão conta de que há pelo menos 60 mortos. Os islamitas da Irmandade Muçulmana dizem que o número passa de 100, enquanto o governo interino tem uma contagem menor.

Mais de 40 pessoas morreram em confrontos em outros lugares do Egito, o que elevaria ainda mais o total. Por sua vez, uma fonte de segurança disse que 24 policiais foram mortos e 15 delegacias foram atacadas desde a noite de quinta, demonstrando a ferocidade da situação.

Na capital, Cairo, o derramamento de sangue aconteceu principalmente na praça Ramsés e em suas imediações. A praça era o destino final de milhares de pessoas protestando contra a repressão do governo instaurado pelos militares. Muitos sequer conseguiram chegar devido à forte presença de soldados e veículos blindados longo do caminho. Alguns manifestantes pularam a ponte 6 de outubro, um dos principais acessos à Ramsés, para fugir dos tiros e evitar um confronto direto com os agentes de segurança.

Vídeos publicados no YouTube mostraram dezenas de cenas em que os manifestantes estiveram sob fogo intenso. Algumas imagens mostram o exato momento em que as pessoas são baleadas. Também há registros de que helicópteros que voavam baixo pelo centro da cidade dispararam contra as pessoas reunidas na Ramsés. Uma mesquita localizada próximo à praça virou hospital de campanha. Para lá foram levados muitos corpos envoltos em lençóis brancos, aparentemente atingidos por metralhadoras e espingardas. À noite, enquanto o exército tomava a praça, um prédio das proximidades ardia em chamas.

Pelo menos 263 pessoas supostamente envolvidas nos atos de violência foram detidas, entre elas um afegão e dois sírios. A agência estatal Mena afirmou que os detidos são investigados pelas autoridades e que a polícia confiscou 16 armas de fogo e sete granadas caseiras.

Civis armados

Imagens de TV mostraram homens vestindo roupas civis portando armas automáticas durante os protestos no Cairo. Na praça Ramsés, jornalistas viram três homens portando armas. Manifestantes aplaudiram quando carros com homens armados chegaram. "Mais cedo ou mais tarde vou morrer. Melhor morrer por meus direitos do que na cama. As armas não nos assustam mais", disse Sara Ahmed, 28 anos, administradora de empresas que aderiu às manifestações no Cairo. "Não se trata da Irmandade, trata-se de direitos humanos", disse, segundo a Reuters.

A imprensa estatal egípcia endureceu sua retórica contra os protestos, especialmente contra a Irmandade Muçulmana, que governou o Egito por um ano, até que o Exército derrubasse Mursi, em 3 de julho. Os meios oficiais usaram a mesma linguagem habitualmente reservada a grupos militantes como a Al-Qaeda, sugerindo que há pouca esperança de uma resolução política para a crise. "Egito combatendo o terrorismo", dizia um selo estampado na cobertura da TV estatal.

Mais protestos

Sem nenhum sinal de recuo, a Irmandade Muçulmana anunciou mais uma semana de protestos nacionais. "Chamamos o povo egípcio e as forças nacionais para protestar diariamente, até que o golpe acabe", disse o grupo islâmico em um comunicado. Os manifestantes exigem a demissão do comandante do Exército, general Abdel Fattah al-Sisi, e a reintegração do primeiro presidente livremente eleito do Egito, que está detido e não é visto em público desde sua queda.

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