A televisão estatal egípcia afirmou neste sábado (29) que o gabinete de ministros do Egito anunciou oficialmente a renúncia após dias de protestos da população contra o governo de Hosni Mubarak.
Porém, o anúncio não será suficiente para conter a onda de protestos no país. Mais cedo, antes da declaração oficial, o líder opositor Mohamed ElBaradei, afirmou que Hosni Mubarak terá de sair. Segundo ele, o discurso do presidente foi "praticamente um insulto à inteligência das pessoas."
El Baradei, chefe da Assembleia Nacional para a Mudança, chegou na última quinta-feira (27) ao Cairo.
Mortes
A agência de notícias Reuters apurou com fontes médicas, hospitais e testemunhas que pelo menos 74 pessoas foram mortas em protestos em todo o Egito. Ainda não há dados oficiais. Segundo o levantamento, 68 mortes foram registradas nas cidades do Cairo, Alexandria e Suez durante os protestos de sexta-feira.
Antes disso, fontes de segurança disseram à Reuters que pelo menos seis pessoas, incluindo um policial, havia sido mortas.
Neste sábado, fontes médicas disseram à agência que cerca de 2 mil pessoas ficaram feridas em todo o país, porém com mais protestos em movimento, esse número pode aumentar. Pelo menos trinta corpos foram levados para o hospital de El Damardash no centro do Cairo nesta sexta-feira (28).
A Associated Press apurou que o total de mortes desde o início das manifestações, que começaram nesta semana, já soma 35 pessoas, o que inclui 10 policiais.
Protestos continuam
Milhares de manifestantes se concentram neste sábado na principal praça de Alexandria, no centro da cidade, e dizem que não vão embora enquanto Mubarak não anunciar a renúncia. A capital o Egito, Cairo, também amanheceu repleta de manifestantes nas ruas.
Os protestos não foram interrompidos durante a madrugada, quando a população quebrou o toque de recolher. A noite foi iluminada por prédios e carros em chamas.O toque de recolher foi imposto pelas Forças Armadas em uma tentativa de acabar com as manifestações que assolam o país pedindo o fim do regime de Mubarak. Os infratores estariam sujeitos a "procedimentos legais ".
Os conflitos mais intensos entre população e forças de segurança aconteceram na cidade de Ismailia, onde a polícia tentou controlar a população com gás lacrimogênio e balas de borracha.
Nesta manhã, no Cairo, um supermercado foi saqueado em um subúrbio da cidade, onde vive uma grande comunidade de estrangeiros. O supermercado, de uma empresa francesa, fica dentro de um shopping. Na noite de sexta-feira (28), também houve diversos saques em vários bairros do Cairo.
Telefonia móvel é parcialmente restaurada
O serviço de telefonia móvel foi parcialmente restaurado no Egito na manhã deste sábado. O serviço, assim como o acesso à internet, foi interrompido na tentativa de impedir as manifestações hostis ao regime.
Internet e telefones móveis desempenharam um papel fundamental na organização de manifestações contra o regime de Hosni Mubarak, liderados por jovens pró-democracia. Eles se inspiraram na Revolução dos Jasmins, que em 14 de janeiro, derrubaram o ditador Zine El Abidine Ben Ali.
Mas, em comunicado, a empresa britânica Vodafone confirmou ter recebido a ordem de suspender os serviços de telefonia celular.
O Departamento de Estado dos EUA pediu que o país garanta o acesso às comunicações e respeite direitos inidividuais durante os protestos.
Um dos maiores provedores da rede no país, o Seabone, baseado na Itália, informou que não havia transmissão de dados para dentro ou fora do Egito desde 0h30 no horário local (20h30 de quinta-feira de Brasília), segundo a Associated Press.
Venezuela
Na Venezuela, manifestantes se concentram em frente à embaixada do Egito, para apoiar o movimento contra o governo de Hosni Mubarak.
Pronunciamento
No primeiro pronunciamento desde o início dos protestos em massa no país, o presidente do Egito, Hosni Mubarak, disse que está comprometido com reformas políticas e econômicas e anunciou que demitirá todos os ministros e que agirá para apresentar um novo gabinete ainda neste sábado (29).
"Pedi ao governo para apresentar sua renúncia hoje", afirmou ele em discurso na televisão estatal.
Durante a fala, transmitida em cadeia de TV pouco depois da meia-noite local (20h de Brasília), Mubarak no entanto disse que a população deve estar ciente dos exemplos de instabilidade em outros países e que os problemas enfrentados no Egito "não podem ser tratados por meio da violência e do caos". O presidente classificou os protestos como "parte de um grande plano para desestabilizar e destruir a legitimidade" do sistema político.
Ao menos 870 manifestantes ficaram feridos nesta sexta-feira, alguns deles a bala, muitos em estado grave. Cerca de 420 estavam hospitalizados.
A sede do Partido Democrático Nacional, de Mubarak, estava em chamas, segundo imagens mostradas ao vivo pela TV Al Jazeera. Outros prédios também teriam sido incendiados. Manifestantes atacaram a sede da TV estatal, também segundo a Al Jazeera.
Hamada Labib el-Sayed, um motorista de 30 anos, foi baleado na cabeça quando a polícia tentava dispersar milhares de manifestantes que atacaram delegacia de Suez e morreu. Em represália, os manifestantes incendiaram oito carros da polícia.
ElBaradei
Os milhares de manifestantes pressionam pela renúncia de Mubarak, há 30 anos no poder.
O opositor Mohamed ElBaradei, que recém retornou ao país e se ofereceu a conduzir uma suposta transição de governo, estaria sob prisão domiciliar, segundo a CNN. Ainda não havia confirmação oficial.
ElBaradei participou durante o dia de uma oração com 2.000 pessoas numa mesquita de Guiza, na capital.
A polícia cercou o local. A rede de TV Al Jazeera chegou a relatar que ele havia sido preso, mas depois desmentiu. Segundo a TV, ele teria sido apenas impedido de deixar o local.
Depois, ele e seu grupo se uniram aos protestos, em uma marcha pacífica pela cidade, segundo testemunhas.
Pedido de reformas
O presidente da Comissão de Relações Exteriores da Assembleia, também membro do governista Partido Nacional Democrata no poder, pediu ao presidente egípcio Hosni Mubarak "reformas sem precedentes" para evitar uma revolução no Egito.
"Em nenhuma parte do mundo a segurança é capaz de pôr fim à revolução", afirmou Mostapha al Fekki, à TV Al Jazeera. "O presidente é a única pessoa que pode pôr fim a esses acontecimentos", disse, para depois pedir "reformas sem precedentes".