Por RFI
Desde a última quinta-feira (2), o primeiro grupo de comissários treinados de forma intensiva entra na linha de frente de combate à Covid-19, a fim de reduzir a sobrecarga de médicos e enfermeiros no país.
A expectativa é de que mais de mil funcionários da SAS irão aderir ao programa de treinamento, oferecido gratuitamente em Estocolmo na Universidade Sophiahemmet. A SAS afastou temporariamente um total de dez mil funcionários – 90% da sua força de trabalho – no último dia 15 de março, em função da drástica redução do tráfego aéreo diante do fechamento de fronteiras de vários países e das medidas restritivas para conter o impacto da infecção viral.
Mas como parte do amplo pacote anunciado pelo governo sueco para amenizar a crise e estender a mão a empregados e empregadores, o Estado já entrou em campo para subsidiar até 90% do salário dos trabalhadores afastados das empresas do país. Os governos da Dinamarca e da Suécia – que detêm, respectivamente, fatias de 14,82% e 14,24% na SAS – também ofereceram socorro à companhia para tentar evitar o pior. Os dois países darão 3 bilhões de coroas suecas (cerca de R$ 1,5 bilhão) em garantias de crédito à SAS.
“É muito importante poder contribuir para o bem-estar da sociedade em um momento como este”, diz à RFI o sueco Filip Palmgren, que trabalhava como comissário de bordo da SAS desde 2017 e que inicia agora sua nova função como auxiliar de enfermagem no Hospital Sophiahemmet.
De acordo com as estatísticas oficiais divulgadas pela agência sueca de Saúde Pública (Folkhälsomyndigheten), a Suécia contabilizava 4.947 casos confirmados do novo coronavírus e 239 mortes até a quinta-feira (02). A maioria dos casos está concentrada na capital, Estocolmo.
Treinamento intensivo
O programa de formação dos comissários de bordo na Universidade Sophiahemmet consiste de três dias de treinamento intensivo. O primeiro módulo envolve informações abrangentes sobre o novo coronavírus, assim como técnicas de esterilização e rotinas de higiene e alimentação dos pacientes.
Na sequência, os participantes aprendem a operar equipamentos como elevadores elétricos para levantar e movimentar pacientes acamados, além do aprendizado de tarefas administrativas básicas e de aulas sobre as leis de privacidade e proteção de dados pessoais de pacientes.
Ao final do curso, os comissários de bordo são submetidos a uma prova a fim de aferir sua capacidade para entrar de imediato na frente de emergência de combate ao coronavírus nos hospitais da Suécia.
“É importante frisar que os participantes do curso atuarão apenas em atividades de apoio ao trabalho dos profissionais de saúde. O tratamento de pacientes é responsabilidade exclusiva de médicos e enfermeiros qualificados”, destaca a reitora da Universidade Sophiahemmet, Johanna Adami.
Integrante da primeira turma de 30 comissários de bordo treinados, Filip Palmgren diz que as características da profissão facilitam a adaptação ao trabalho como auxiliar de enfermagem.
“Como comissários de bordo, somos muito bons em lidar com situações de emergência e tomar decisões rápidas, e estamos habituados a lidar diariamente com pessoas de forma eficiente”, diz Filip.
A reitora da Universidade Sophiahemmet observa que as habilidades de comunicação dos comissários de bordo também serão importantes para a tarefa de levar informação e conforto a pacientes e familiares.
“Em sua nova função, eles terão, por exemplo, a responsabilidade de informar familiares sobre o estado de pacientes internados em unidades de terapia intensiva”, diz Johanna Adami.
“Comissários de bordo são profissionais muito bem treinados e bem preparados para lidar com situações inesperadas, além de terem conhecimento básico sobre problemas de saúde. Estão, portanto, perfeitamente capacitados para contribuir em termos de aliviar a carga de trabalho que os profissionais de saúde do país enfrentam neste momento”, ela acrescenta.
Aposta na imunização coletiva
Frente à esperada elevação da incidência da Covid-19 na Suécia, as autoridades de saúde mantêm no momento a dupla estratégia de adotar medidas graduais de contenção da crise em termos da restrição da circulação de pessoas, enquanto empreendem uma operação de emergência para triplicar o número de leitos de terapia intensiva e se preparar para o pior.
Em contraste com as medidas mais extremas adotadas pelos vizinhos europeus, a Suécia não decretou o confinamento: a maioria dos cafés, restaurantes e lojas permanecem abertos – embora com movimento visivelmente reduzido –, e apenas as escolas de ensino médio e universidades foram fechadas. Creches e instituições do ensino fundamental continuam funcionando normalmente. As autoridades optaram pela via da imunização coletiva.
Ao mesmo tempo, as autoridades de saúde mantêm a população informada diariamente sobre a evolução da crise e da estratégia de enfrentamento ao coronavírus no país, além de advertir para as rígidas regras de higiene e distanciamento social – em particular as medidas de isolamento e proteção dos idosos e grupos de risco. Em cumprimento às orientações, grande parte dos trabalhadores adotaram o sistema de teletrabalho, e o movimento nas ruas é notadamente reduzido.
Eventos culturais e esportivos foram cancelados e as estações de esqui fecharam as portas, diante da recente decisão do governo de reduzir de 500 para 50 pessoas o limite máximo permitido para encontros públicos.
Em declarações à TV pública SVT na noite de quarta-feira, o primeiro-ministro Stefan Löfven destacou que medidas mais drásticas de isolamento podem vir a ser adotadas, e advertiu que a crise deverá durar “meses, e não semanas”.
“Tenho respeito pela estratégia decidida pelo governo”, diz o comissário de bordo Filip Palmgren. “A situação é difícil para todos nós, e a iniciativa de treinar comissários de bordo para auxiliar o trabalho dos profissionais de saúde é um exemplo de solução criativa para fazer frente à crise que enfrentamos.”