A ausência de uma mensagem dita pelo refém Peter Kassig no vídeo de sua execução pode indicar que ele desafiou o Estado Islâmico e se recusou a fazer propaganda para o grupo terroristas.
Um especialista em segurança ouvido pelo jornal britânico Daily Telegraph apontou indícios que apoiam a tese. Segundo Will Geddes, que já trabalhou em vários casos envolvendo reféns, afirmou que as vítimas executadas anteriormente podem ter sido enganadas e levadas a acreditar que teriam a vida poupada se cooperassem. Kassig, que se converteu ao Islã e adotou o nome Abdul-Rahman, pode ter percebido que seria morto de qualquer jeito.
“Esse jovem foi um Ranger (grupo de elite do Exército), foi combatente no Iraque. Ele pode ter ouvido de algum terrorista ou de outro refém que eles estavam liberando reféns britânicos e europeus. Ele pode ter dito que não iria divulgar nenhuma mensagem em um discurso gravado”.
O vídeo divulgado pelos terroristas no domingo (16) tinha diferenças notáveis em comparação com os que foram gravados com quatro vítimas executadas anteriormente. O carrasco que aparece nas imagens faz referência ao silêncio de Kassig, dizendo que os reféns decapitados anteriormente já haviam falado por ele.
Os americanos James Foley e Steven Sotloff, e os britânicos David Haines e Alan Henning, que morreram anteriormente nas mãos do EI fizeram declarações antes da decapitação culpando tanto o presidente Barack Obama como o primeiro-ministro David Cameron pela operação contra o grupo no Iraque e na Síria.
Outra diferença importante é que o vídeo não termina com outro refém sendo ameaçado. Para o professor do Centro de Estudos sobre Radicalização e Violência Política do King’s College, Peter Neumann, essa mudança pode indicar uma ausência de reféns adequados, uma vez que os terroristas ainda não sabem o que fazer com John Cantlie. O jornalista britânico tem sido usado como uma espécie de ‘porta-voz’ dos jihadistas em uma série de vídeos de propaganda. “Eu não acho que eles saibam o que fazer com Cantlie, ele ainda pode ser útil para eles”, avaliou o especialista em entrevista ao Telegraph.
Kassig, de 26 anos, serviu na unidade de operações especiais e foi enviado ao Iraque em 2007. Depois de deixar o Exército, ele passou a se dedicar ao trabalho voluntário, ajudando pessoas atingidas pela guerra na Síria. O jovem americano havia sido sequestrado há mais de um ano.
Os pais de Kassig divulgaram um comunicado sobre a execução do filho. “Estamos arrasados por saber que nosso filho, Abdul-Rahman Peter Kassig perdeu sua vida como resultado de seu amor pelo povo sírio e sua vontade de aliviar o sofrimento das pessoas”, escreveram Ed e Paula.
Eles também divulgaram uma gravação em áudio feita antes do sequestro, na qual Kassig demonstrava orgulho pelo trabalho realizado na Síria. “Vocês sabem que temos a oportunidade aqui de compensar muito do que fizemos de errado nessa parte do mundo se avançarmos no caminho certo”, disse.