Aproximadamente 29 mil crianças menores de cinco anos morreram de fome nos últimos três meses na Somália, segundo estimativa divulgada pelo governo dos EUA. A projeção foi feita a partir de pesquisas sobre nutrição e mortalidade analisadas pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA. Esse número pode se elevar ainda mais, pois segundo levantamento da ONU ao menos 640 mil crianças somalis estão desnutridas.
O surto de fome é resultado da pior seca dos últimos 60 anos, que se abateu sobre a Somália e já se espalha pelo Chifre da África. Segundo a ONU, aproximadamente 10 milhões de pessoas já foram atingidas na Somália, no Quênia, no Djibuti e na Etiópia. A ONU declarou situação de fome na capital somali, Mogadício, e em outras cinco regiões próximas, no centro e no sul do país.
Além da seca, a fome somali é fruto de um país devastado pela guerra civil -que não tem um governo central desde 1991. Apesar da existência de um governo provisório, quem exerce o poder de fato são milícias e "senhores da guerra".
Segundo estimativas das Nações Unidas, todo o sul da Somália enfrenta uma situação de insegurança alimentar que também pode se transformar em fome em seis semanas, caso o país não receba ajuda internacional. A região sul é controlada atualmente pelo grupo extremista Al Shabab, supostamente aliado à rede Al Qaeda, que afirma que não há surto de fome no país. O grupo tem impedido a entrada e a atuação de organizações humanitárias, isolando uma região onde vivem 2,2 milhões de pessoas.
Ontem, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, fez um apelo para que todos os militantes islâmicos baseados na Somália permitam a entrada no país de ajuda humanitária ocidental. Ela afirmou que o grupo Al Shabab tem o "dever humanitário" de acabar com o bloqueio, principalmente durante o período do Ramadã, que começou nesta semana. "É particularmente trágico que durante o mês sagrado do Ramadã o Al Shabab esteja impedindo a assistência às populações mais vulneráveis da Somália", disse.
A secretária de Estado dos EUA afirmou ainda que a mulher do vice-presidente Joe Biden, Jill Biden, fará uma visita ao vizinho Quênia para supervisionar o envio de ajuda humanitária à Somália. A Cruz Vermelha, única entidade autorizada a operar no país, disse que distribuirá comida para 1,1 milhão de pessoas no centro e no sul.